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Independência torna-se danosa quando inferioriza o companheiro

Alberto Lima Publicado em 28/09/2006, às 17h23

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A idéia de que as mulheres independentes assustam os homens está disseminada na sociedade atual e, em especial, entre as próprias mulheres. É fato que elas evoluíram em suas carreiras e adquiriram autonomia pessoal e social - e é fato também que estão vendo afastar-se delas os homens que almejariam ter como parceiros. O sumiço dos rapazes, ponderam, só pode ser conseqüência dos temores que eles experimentam: de se sentirem desqualificados ou inferiorizados diante delas; de terem que se submeter à autoridade delas; de serem encarcerados numa relação desigual, com desvantagens para eles. Contudo, uma avaliação feita nesses termos deixa de levar em conta que muitos homens podem estar assustados é com o aspecto devorador do feminino. Explica-se: certas mulheres, embora não saibam ou não admitam, permanecem terrivelmente dependentes. Elas continuam presas à crença, muitas vezes inconsciente, de que uma mulher é incompleta quando não consegue formar uma parceria amorosa. À luz desse valor, a qualificação de uma mulher não decorreria de suas realizações no mundo, em todos os planos, mas apenas de sua capacidade de conquistar e preservar um parceiro no campo amoroso. Esse quesito a torna dependente, ainda que não o perceba. Não há nada de errado em que exista dependência num relacionamento. Ele pode ficar doente e depender dela para ser cuidado; ela pode viajar a trabalho e depender dele para os cuidados com a casa. A troca é positiva e confere ao casal a dádiva da reciprocidade. A dependência deixa de ser salutar apenas quando, sentindo-se incompleto, um membro do casal delega ao outro funções para as quais se sente inábil, ou quando, por se sentir esvaziado de certos conteúdos, compele o outro a desempenhar o papel de uma parcela de sua identidade, transformando-o em um pagador de contas, em uma trocadora de fraldas. De forma análoga, a independência é sadia quando faz de uma pessoa um ser inteiro e desejoso de compartilhar a alegria dessa inteireza com alguém, com quem vivencia uma dependência construtiva e com quem se organiza para trocar fraldas e pagar contas, num movimento de mutualidade. A independência só se revela problemática quando se instala como uma auto-suficiência excludente, acompanhada de atitudes desabonadoras e desqualificadoras para como outro. Esse tipo de independência costuma ser indício do sofrimento de alguém que, por jamais ter podido contar com o outro (na maior parte das vezes, os pais), aprende a prescindir de cuidados, estando, pois, inabilitado para vivenciar relações de dependência sadia. Às vezes ocorre um desenvolvimento em parte sadio e em parte doentio: a pessoa se torna financeiramente independente, contudo preserva a dependência emocional. Ocultas nessa pseudo-independência, as necessidades inconscientes de cuidado e proteção se transformam em voracidade. É preciso esclarecer, porém, que esse comportamento não é exclusividade da mulher, ainda que, aqui, só a posição feminina esteja sendo avaliada. A mulher coloca-se como devoradora quando submete o homem às suas expectativas, raramente explícitas e não necessariamente conscientes; quando se alimenta do mal-estar dele (precisa que ele se sinta fraco ou insuficiente para se sentir valiosa); quando controla seus passos e ações, aos moldes de uma tutora, submetendo-o ao crivo rigorosíssimo de suas avaliações; quando se apossa dele como de uma presa, obrigandoo a renunciar à vida própria para se tornar um apêndice da vida dela. Situações como essas assustam - e permitem que se inverta a crença popular: o que afasta certos homens de certas mulheres é a dependência feminina, entendida como um rombo na personalidade da mulher a ser preenchido pelo homem. Nesse caso, nada mais sadio do que se afastar.