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Identificar, do latim medieval identificare, é fazer-se reconhecer...

...No palco, os atores assumem identidades diferentes. Sua atuação já foi chamada de hipocrisia, do grego hypokrisía, coisa encoberta, cifrada, atualmente sinônimo de falsidade.

Deonísio da Silva Publicado em 21/06/2007, às 15h33

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Beatificar: do latim beatificare, beatificar, conduzir à beatitude, à bemaventurança, à felicidade perpétua. Apesar de predominar o sentido religioso, o conceito remonta a Aristóteles (384-322 a.C.), designando plena satisfação, que só pode ser obtida pelo sábio. Nos processos de canonização - canonizar é pôr no cânone da Igreja -, a beatificação é a penúltima etapa, como ocorreu com o primeiro santo brasileiro, Antônio de Sant'Anna Galvão (1839-1822), mais conhecido como Frei Galvão, nascido em Guaratinguetá (SP) e falecido na capital paulista, na véspera da noite de Natal do ano em que o Brasil proclamou sua independência política. O santo era filho do português Antônio Galvão de França e de Isabel Leite de Barros, bisneta do bandeirante Fernão Dias Paes (1608-1681). No dia 9 de novembro de 1766, ao dedicar-se a Maria, como "filho e escravo perpétuo", Frei Galvão assinou a declaração molhando a pena no próprio sangue. Seu primeiro milagre documentado foi a ajuda a uma mulher que enfrentava um parto complicado em São Paulo, quando ele se encontrava no Rio de Janeiro. "Como se deu, não sei; mas a verdade é que naquela noite lá estive". A bilocação do santo - capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo - é referida ainda em outros milagres. Charrua: do latim carruca, arado, do latim carrus, carro, carroça, pelo francês charrue, charrua, já designando, no gaulês antigo, instrumento para lavrar a terra, dotado de rodas. Veio daí charrete, veículo utilizado para o transporte de gente fina e nobre, depois popularizado. Da mesma fonte vem o verbo francês charrier, transportar, pronunciado carrier na Normandia, que serviu de base ao inglês carry, todos radicados no latim clássico carricare, pôr no carrus, levar, transportar. Têm a mesma origem o francês carrose, o italiano carrozza e o português carroça. Por outros motivos, mas igualmente calcado no baixo latim caricare, carregar, porém com o sentido de exagerar surgiu caricatura: desenho de uma personalidade com traços exagerados, para fazer rir. Escrito da mesma forma, mas com origem diversa, temos charrua, nome de uma tribo indígena que habitou o Rio Grande do Sul, o Uruguai e a Argentina. Identificar: do latim medieval identificare, identificar, do latim eclesiástico identicus, semelhante, palavras radicadas no latim clássico idem, o mesmo. O latim clássico tinha outras palavras para o sentido que ganhou o verbo identificar: recognoscere, reconhecer; assimilare, assimilar. Identificar-se é ato importante para as sociedades modernas. No caso do Brasil, a cédula de identidade, emitida a partir da certidão de nascimento, guarda resquícios da identificação feita pela Igreja, pois, antes da República e mesmo algumas décadas depois, o Estado serviase das certidões de batismo para emissão de outros documentos laicos. Apresentar documento de identidade tornou-se exigência usual e em alguns casos indispensável, como nas viagens aéreas, principalmente depois do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, quando aviões derrubaram dois edifícios em Nova York. Desde então, entre outras medidas, passaram a ser recusadas as cópias de documentos de identificação, mesmo quando autenticadas. Agora, só vale o original. Hipocrisia: do grego hypokrisía, hipocrisia, coisa encoberta, cifrada, alterada mais tarde para hypókrisis, resposta de oráculo. Veio a designar o desempenho teatral, a declamação do ator, que simulava ser outro no palco. O português, porém, tomou a palavra do baixo latim hypocrisis, hipocrisia, de sentido mais restrito, entretanto já existente no grego. O grego hypó indica posição inferior da krísis, mudança. Nos começos do teatro, na Grécia antiga, os atores, não sendo profissionais, adotavam máscaras que identificavam os estados de alma do personagem, coisa que os atores profissionais conseguem fazer com o próprio rosto, sem uso de máscara nenhuma. Mas hipocrisia e hipócrita consolidaramse com o sentido de aparentar o que não é, de ser falso, fingido, mentiroso, tanto que os antônimos aludem à verdade, à sinceridade e à lealdade. Quitute: de origem bastante controversa, provavelmente do quimbundo kitutu, indigestão, mas designando também comida apetitosa, iguaria delicada, docinho, bolinho, e tendo ainda o sentido de carícia, mimo, delicadeza, menina bonita, objeto delicado. O escritor e compositor carioca Nei Lopes (65) acha que a origem mais provável é o quicongo kituuti, prato bem-feito, que demanda cuidados especiais como separar, descascar e pilar o grão. O sentido de indigestão pode ter vindo do cruzamento de kitutu e kituxi, gula, pecado que acaba provocando a indigestão.