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Hipertrofia, do grego hiper, excessivo, e trophé, alimentar, aplica-se...

...ao que se avoluma além do esperado, como os impostos. Aliás, a chegada, nesta época, das cobranças de vários tributos leva muita gente a emitir xigamentos ou xingos, do quimbundo xinga, ou seja, impropérios.

Deonísio da Silva Publicado em 18/01/2007, às 11h58

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Água: do latim aqua, água, substância líquida, insípida, incolor e inodora, de fórmula química H2O, indispensável à vida. Aparece logo nos versículos iniciais da Bíblia. Depois de ter criado o Céu e a Terra, "o Espírito de Deus pairava sobre as águas", diz o texto sagrado. Hoje, a palavra está presente em numerosas expressões. Diz-se de um planejamento que não cumpriu seus objetivos que "fez água" ou "foi por água abaixo". Políticos que combinam ignorância e prepotência nas previsões feitas no começo de cada ano calam-se quando se aproxima o Réveillon, ao "darem com os burros n'água". "Desta água não beberei" indica recusa. "Gato escaldado tem medo de água fria" revela experiência ou trauma. "Fazer tempestade em copo d'água" é exagerar. "Águas passadas não movem moinhos" refere-se a oportunidades perdidas. Já "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" é provérbio de origem latina que fala de persistência: a substância aparentemente mais fraca, a água, vence a forte, a pedra. Já defender alguma idéia "até debaixo d'água" pode revelar que o inconsciente armazenou prática de tortura. Ficar com "água na boca" é desejar muito alguma coisa, pois salivamos diante daquilo que nos parece apetitoso. Mudar radicalmente de idéia é "mudar da água para o vinho" e "pescar em águas turvas", tirar proveito de situações confusas. "Tirar água de pedra", expressão em que a água às vezes é substituída pelo leite, é realizar tarefa considerada quase impossível, a menos que haja um milagre, como no caso de Moisés, que bateu com o cajado na rocha, fazendo-a verter água. Hipertrofia: dos compostos gregos hiper, excessivo, e trophé, alimentar, fazer crescer. Aparece tanto em sentido denotativo - hipertrofia de um órgão ou de muitos deles, como ocorre com os obesos -, quanto no conotativo, em sentido metafórico, de que é exemplo o aumento exagerado de impostos e de suas alíquotas. A hipertrofia pode acontecer por acidente ou descuido, mas ela é também planejada, como no caso do foie gras, expressão da culinária francesa para as palavras latinas ficatum grassus, fígado gordo. Os romanos engordavam aves caseiras, especialmente gansos e patos, com figos, para que o fígado dessas aves se tornasse espesso (crassus) e grosso (grossus). Crescido, tornava-se gordo, grassus. Tal alimentação forçada já levou o fígado de um ganso a pesar 2 quilos, segundo a enciclopédia francesa Larousse. Na história infantil João e Maria, a bruxa malvada põe o menino sob alimentação forçada para obter, não apenas foie gras, mas hipertrofia do corpo inteiro, com o fim de devorá-lo cozido no caldeirão. Todos os dias ordena que ele ponha o dedinho para fora da gaiola para certificar-se da engorda progressiva. O final feliz, entretanto, comum aos contos de fada, é alcançado com a chegada de um homem salvador, quase sempre um lenhador ou um caçador. Antigos heróis da floresta, caçadores e lenhadores são hoje em dia acusados de destruir a fauna e a flora. Martíni: do italiano Martini, provavelmente nome de quem inventou este coquetel, composto de vermute seco e gim, servido gelado, com azeitona, cereja ou casca de limão ou de laranja. Vermute vem do alemão Wermut, absinto, inicialmente utilizado como vermífugo, e gim procede do inglês gin, redução de geneva, genebra, do holandês genever, hoje escrito jenever. Além de bebidas, também pratos levam nomes de pessoas. Mas nem sempre é o do autor, como no caso do carpaccio. Foi Giuseppe Cipriani, no seu famoso bar Harry's, de Veneza, quem inventou a entrada de carne crua temperada com azeite, queijo, mostarda e suco de limão ou maionese. Mas ele preferiu homenagear com sua obra o pintor renascentista Vittore Carpaccio (1460-1525), que usava pigmento vermelho vivo em seus quadros. Xingo: de xingar, do quimbundo xinga, insulto, ofensa. Em busca de ultrajar o próximo, o homem recorre com freqüência aos animais e freqüentemente é injusto, senão com os ofendidos, com os bichos utilizados nas metáforas xingatórias. O estúpido é chamado de burro, mas os entendidos em pecuária sabem que o burro é tão ou mais inteligente do que o cavalo. Os estouvados e grosseiros são chamados de cavalos, mas o cavalo é um animal dócil e delicado, capaz de levar o dono bêbado, são e salvo, da bodega onde tomou o porre à casa, onde será curado da ressaca. A mulher devassa é chamada de vaca, mas quase todas as vacas são monogâmicas ou, então, recebem apenas os touros que lhes são destinados, sem procurá-los pelo pasto em troca de diversão ou de dinheiro. A pessoa de má índole é chamada de cobra, porém a cobra ataca somente por defesa. O homossexual masculino é chamado de veado, mas este ruminante não faz jus a tal opção sexual, sendo ainda obscura a razão de ter servido a tal metáfora. O porco, por ser onívoro e esfregar-se na lama, é invocado para xingar as pessoas sem higiene, porém outros animais fazem coisas semelhantes e não aparecem nos xingamentos. Chamar marido infiel de cachorro e político ladrão de gatuno estão entre os mais injustos. Afinal, o cachorro é fiel e o gato não rouba.