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Hidrocefalia de pressão normal é um tipo de demência que tem cura

Eduardo A.S. Vellutini Publicado em 14/12/2006, às 11h06 - Atualizado em 24/08/2012, às 17h13

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Eduardo A.S. Vellutini
Eduardo A.S. Vellutini
Hidrocefalia é o aumento no volume do líquor (líquido cérebro-espinhal) nas cavidades cerebrais chamadas ventrículos. O líquor aí produzido (por volta de 400 ml/dia) circula entre o cérebro e a medula espinhal e é constantemente absorvido para que o volume fique estável em torno de 150 ml. Se ocorre um bloqueio em sua circulação ou diminuição na capacidade de absorção, o líquido se acumula nos ventrículos, em geral provocando o aumento da pressão dentro da cabeça (pressão intracraniana). O neurocirurgião colombiano Salomon Hakim descreveu em 1964 um tipo de hidrocefalia que ocorre sobretudo em idosos na qual não haveria sintomas do aumento de pressão. Chamou-a de hidrocefalia de pressão normal (HPN). Mais tarde, porém, se descobriu que há surtos de aumento da pressão intracraniana em tais pacientes e então se propôs a denominação de hidrocefalia de pressão intermitente. A doença atinge homens e mulheres em geral após os 60 anos. A causa é uma diminuição na capacidade de absorção do líquor devido a mudanças em suas características por alterações no sistema nervoso central. Apesar de hemorragias, infecções e tumores serem desencadeadores, na maior parte dos pacientes não se consegue determinar a causa. O acúmulo de líquor não faz aumentar a pressão intracraniana porque o processo ocorre lentamente, permitindo uma adaptação do cérebro. Além disso, pelo fato de ser predominante em idosos já com certo grau de atrofia cerebral fica mais fácil a acomodação das estruturas. A HPN caracteriza-se por uma tríade de sintomas: alterações da marcha, dificuldade de controle da micção e demência leve, que podem ocorrer em intensidades variadas. " Alterações da marcha. Em geral são as primeiras a manifestar-se e constituem o traço mais importante da doença. Variam de desequilíbrios leves à incapacidade de ficar em pé ou de caminhar. A marcha torna-se lenta e arrastada; os passos, curtos. Os pacientes têm dificuldade para subir degraus e/ou o meio-fio e especialmente dificuldade para virar-se, fazendo-o de maneira lenta, por meio de vários passos. " Dificuldade de controle da micção. Nos casos mais leves, caracteriza-se por aumento da freqüência urinária e urgência miccional. Nas situações mais graves, os portadores perdem a capacidade de controle urinário. " Demência leve. Caracteriza-se por perda do interesse pelas atividades do dia-a-dia, dificuldade de realizar as obrigações diárias e perda da memória recente. Pacientes com sintomas devem ser avaliados por especialistas. A dificuldade no diagnóstico é que muitas vezes tais sintomas, mesmo quando associados ao aumento dos ventrículos, podem ser atribuídos ao envelhecimento natural ou confundidos com moléstias mais freqüentes, como Alzheimer ou Parkinson. A diferenciação é feita sobretudo pelo quadro clínico: no paciente com HPN a alteração de marcha e a dificuldade de controle urinário iniciam o quadro e predominam sobre a demência. No paciente com Alzheimer aparece primeiro a demência. Exames para avaliação do fluxo liquórico, como ressonância magnética de crânio e cisternocintilografia, auxiliam no diagnóstico. Se ainda houver dúvida, a medida contínua da pressão liquórica ou a remoção de determinado volume de líquor para avaliar mudanças do quadro clínico (tap test) podem confirmar se o paciente tem mesmo HPN. Todo esse esforço no diagnóstico é válido, porque a HPN pode representar até 10% dos casos de demência e é uma das poucas que têm tratamento eficaz, com boa chance de regressão dos sintomas quando tratada precocemente. O tratamento é cirúrgico. Consiste em implantar, sob a pele, um sistema de válvula para drenar o líquor. Sempre que há aumento da pressão intracraniana, o líquor excedente é drenado dos ventrículos para a cavidade abdominal, onde é reabsorvido.