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Há problemas e também vantagens na união com pessoas divorciadas

Paulo Sternick Publicado em 06/07/2007, às 17h58

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O exagero de atitudes audaciosas e libertárias dos mutantes dias atuais produz reações e interrogações "conservadoras" que pareciam quase superadas nos tempos iniciais da revolução dos costumes, nos anos de 1960 ou 1970. Por exemplo: deve-se levar adiante um romance com uma pessoa divorciada ou que já tenha morado com alguém? A questão voltou à mídia quando o papa Bento XVI, preocupado com os rumos exorbitantes da cultura moderna, comparou a propagação do segundo casamento a uma "praga social", divulgando, em março, sua primeira exortação apostólica, intitulada Sacramentum Caritatis (O Sacramento do Amor). Ele renovou a advertência em sua recente visita ao Brasil. Pombinhos separados, ou os que amam alguém divorciado, ficaram surpresos com a advertência. No extremo oposto, mal serviu de consolo a brincadeira petulante que fez o ator Carlos Mossy, ao afirmar que "Bento XVI condena o segundo casamento porque é solteiro; se fosse casado, condenaria o primeiro também". Ironias à parte, a polêmica mostra que o amor requer certa mistura de seriedade e bom humor. Qualidades, porém, diferentes da rigidez e do sarcasmo. O papa, fiel ao Evangelho, obedece a razões religiosas que nem sempre o amor é capaz de seguir; e o amor, submetido às imperfeições do coração, sente desejos e frustrações que a pureza do dogma desconhece. As críticas que o papa vem fazendo à cultura materialista e à instabilidade dos vínculos tem inegável consistência: é preciso levar a sério suas palavras, pois esse diálogo é benéfico a um amor que não se deixa arrastar por seduções ilusórias. Mas reflitamos: o que é, de fato, uma pessoa divorciada? Pode-se jogar todos os separados numa única categoria? Constituem praga ou são os que se uniram por amor e sofreram desencanto? E se o divorciado foi abandonado, ou traído, não poderia ter uma segunda chance, com outro amor menos volúvel? Penso que os pombinhos desejam um Deus mais generoso e criterioso - não omisso ou indulgente-com seus azares ou imperfeições. Afinal, quem se divorciou pode ser pessoa íntegra e trazer bagagem de experiência decisiva para o êxito da segunda união. Pesquisas mostram que são necessárias algumas relações até que surja o amor que finalmente dará certo. Claro, se o amor acontece entre pessoas separadas, os problemas são menores do que se uma jovem se apaixona por um homem divorciado, ainda mais se é mais velho e tem filhos - ou vice-versa. Não se pode esconder problemas que surgem nessas situações: a ex-mulher ou o ex-marido; a responsabilidade e o vínculo com os filhos; um suposto desapego ao compromisso; e assim por diante. Não há dúvida de que o outro é um "pacote" onde estão incluídos todos os seus antecedentes. É natural que haja certa oposição, até preconceito a uma união assim. Mas, como diria Chico Buarque, "o que será, que será, o que não tem governo, nem nunca terá; o que não tem juízo?" Hipóteses pessimistas não são capazes de vencer um forte amor, se é autêntico e inevitável, mesmo que fora de hora. Quanto mais não seja, porque não se pode reduzir uma pessoa arbitrariamente a uma única dimensão, e vêla só a partir desse foco. Em nossa época de intolerância, quem procura um amor real deve aprender a desconfiar de categorias coletivas. Elas tentam definir uma pessoa só por sua inclusão em certo grupo. Mas um indivíduo é múltipla combinação de fatores que o tornam um ser singular, incapaz de ser aprisionado - exceto em situações extremas de caráter - em uma definição isolada.