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GIANFRANCESCO GUARNIERI: GRANDE MESTRE

MORTE DE IMPORTANTE ATOR E DRAMATURGO, AOS 71 ANOS, EM SP, COMOVE A TODOS

Redação Publicado em 26/07/2006, às 17h01

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Guarnieri é levado pelo filho Claudio e pelo genro Leonel Prata, à frente, e pelos filhos Paulo, Flávio e Fernando Henrique
Guarnieri é levado pelo filho Claudio e pelo genro Leonel Prata, à frente, e pelos filhos Paulo, Flávio e Fernando Henrique
por Carol Martins e Alberto Santiago Em semana de luto para a arte, faleceu no sábado, 22, aos 71 anos, o ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, quatro dias após Raul Cortez, aos 73. Um dos pilares do teatro nacional, Guarnieri estava internado com insuficiência renal no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde 2 de junho e sedado desde a quinta, 20. Há dez anos sofria de problemas renais e, há quatro, eles se agravaram. Seu último trabalho foi como o Peppe, de Belíssima. A última cena, com um velho parceiro: Lima Duarte (76), o Murat da trama. Ao velório, no hospital, e ao enterro, no Cemitério Jardim da Serra, em Mairiporã, Grande SP, onde Guarnieri morava, compareceram amigos como Jacques Lagoa (62), diretor de novelas do SBT, e os atores Eva Wilma (72), Antonio Petrin (68), Othon Bastos (72), Rosi Campos (52), Cristina Nicolotti (45) e John Herbert (77), além do músico e apresentador Rolando Boldrin (69) e de Cláudio Lembo (72), governador do Estado de SP. Se despediram do mestre e abraçaram a viúva, a socióloga Vanya Sant'Anna (62), com quem Guarnieri teve três filhos: Claudio (39), arquiteto de informação, Fernando Henrique (38), cientista político, e Mariana (37), produtora de elenco. "Foi uma morte tranqüila. Ele se sentia tratado com justiça e amor. Fomos felizes durante 41 anos",declarou Vanya. Frutos de sua primeira união, com a jornalista Cecilia Thompson (69), o ator, autor, diretor e empresário Paulo Guarnieri (45) e o ator Flávio Guarnieri (46) já demonstravam a saudade. "Meu pai, a melhor pessoa que conheci, deixou com sua obra um testamento para o Brasil. Para nós, ensinou humildade e amor ao próximo", afirmou Flávio. "O ser humano presta muita atenção ao que não tem e pouca ao que tem. Vou olhar pelo que tive. Estou feliz e agradeço a Deus pelo meu pai", completou Paulo. Entre os amigos, a emoção não era menor. "Uma vez gravamos no alto de um morrinho e ele disse: 'Estou me sentindo N.S. de Lourdes.' Agora ele está lá, com ela e todos os santos", contou Eva. "Ele mudou nosso teatro e foi um dos melhores, além de grande amigo. Os deuses falaram para Cortez e Guarnieri: 'Venham descansar, já fizeram muito.'", disse Herbert. "Só acho que quando alguém morre velho, está dentro do combinado. Ele foi muito cedo", emendou Boldrin. Dono de humor refinado, Guarnieri enfrentava com galhardia a hemodiálise. Certa vez, disse: "Ainda bem que existe este tratamento; uma injeçãozinha e uma maquininha te viram o sangue de cabeça para baixo", afirmou ele, que não temia a finitude. "De onde vem a vida? Vou lá saber? Começo a rir. Perguntar a mim mesmo é covardia. É lindo você pensar de onde veio e para onde vai. Talvez me preocupe mais para onde vou. Mas sei que para onde vou terei calma. Não temo a morte, me enturmo com o que vier", declarou em 2005, em uma de suas entrevistas. Nascido em Milão, Itália, Guarnieri imigrou com os pais, a harpista Elsa e o maestro Edoardo de Guarnieri, para o Rio, em 1937. Em 1953, a família mudou-se para São Paulo, onde Edoardo dirigiu o Theatro Municipal e Guarnieri entranhou-se nas artes e na política. Em 1955, ajudou a fundar o Teatro Paulista do Estudante, onde, no mesmo ano, dividiu o palco com Raul Cortez em O Impetuoso Capitão Tick, peça de estréia de Cortez. Em 1958, no Teatro de Arena, estreou Eles Não Usam Black-Tie, um marco na dramaturgia nacional. A obra - que virou filme em 1981, estrelado por Guarnieri e por Fernanda Montenegro (76) - aborda o drama da família de um militante (Guarnieri) às voltas com greves sindicais. A crença em contribuir para o bem social o levou, inclusive, a um cargo público na vida real. De 1984 a 1986, foi secretário de Cultura da cidade de São Paulo, durante a prefeitura de Mário Covas (1930-2001). A militância e o teatro foram dois nortes na vida do artista, autor de cerca de 25 peças, incluindo os antológicos Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes, e os musicais Marta Saré e Castro Alves Pede Passagem. Ganhou quatro prêmios Moliére. Guarnieri brilhou também em memoráveis atuações em novelas de TV, que o tornaram ainda mais popular e querido. Mais do que isso, conquistou o respeito e o carinho de todo o público brasileiro que, em sua despedida, lhe reverencia com reconhecimento e sentidos aplausos. FOTOS: FRANCIO DE HOLANDA