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Fortaleza, palavra radicada no latim fortis, forte, designa construção militar

...estratégica, destinada a proteger cidades. Houve um tempo em que era prudente, do latim prudente, capaz de prever ou perceber antes, construir fortalezas para evitar a invasão dos territórios.

Deonísio da Silva Publicado em 08/02/2007, às 10h17

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Acaciano: do nome de um personagem do romancista português Eça de Queiroz (1845-1900), o Conselheiro Acácio, da obra O Primo Basílio. Indica pessoa de falas pomposas, que pronuncia obviedades como se fossem grandes novidades. Consciente ou inconscientemente, o escritor usou o nome certo. Acácio vem do grego Ákakos, pelo latim Acacius, ingênuo, simples, sem malícia, pela composição kakós, mau, ruim, antecedido do "a", que indica negação. Já o feminino, acácia, não é nome de pessoa, mas designação comum a árvores e arbustos, de que há muitas espécies, como a acácia-verdadeira, a acácia-falsa, a acácia-bastarda, a acáciaargentina, a acácia-do-egito, a acácia-do-nilo, a acácia-do-méxico, a acácia-negra e outras. Quando, em 8 de dezembro de 1891, foi inaugurada em São Paulo a Avenida Paulista, então exclusivamente residencial, dois outros nomes propostos acabaram sendo deixados de lado: Prado de São Paulo e Avenida das Acácias. Prevaleceu a opinião do idealizador do projeto, o engenheiroagrônomo nascido no Uruguai Joaquim Eugênio de Lima (1845- 1902): "Será Paulista, em homenagem aos paulistas". No final da década de 1920, ela passou a se chamar Avenida Carlos de Campos, mas o novo nome não pegou e o antigo foi retomado. Cambalacho: provavelmente do português antigo cambal, proteção de tábuas ou panos, colocados ao redor da mó, no engenho, para impedir que a farinha se espalhe. Passou, por metáfora, a designar fraude, trapaça, tramóia, conluio. A origem remota é o verbo do latim tardio cambiare, trocar, permutar. O latim pode ter aproveitado a raiz céltica kamb, curvo, torto, idéia que está presente em cambar, cambalear, isto é, vacilar ao andar, trocar as pernas, não caminhar em linha reta. A palavra voltou com toda força nos anos 1980 por causa da novela Cambalacho, de Silvio de Abreu (64), exibida em 1986 pela Rede Globo de Televisão. A personagem de Natália do Vale (52) pensa num crime perfeito para matar o marido, vivido por Mário Lago (1911-2002), e ficar com a herança. Mas aparece uma filha do falecido, representada por Fernanda Montenegro (77), que vive de aplicar pequenos golpes, ao lado do personagem de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), para criar muitos filhos adotivos. Para reaver a fortuna do esposo, ela recorre ao cunhado, papel que ficou a cargo de Claudio Marzo (66), por quem é apaixonada. Dirigida por Jorge Fernando (51) e Antônio Rangel (51), a novela chegou a 63 pontos de audiência. Compositor, cantor e ator de musicais, Carlos Gardel (1890-1935) fez um tango intitulado Cambalache: "Que el mundo fue y será una porquería/ ya lo sé.../ (¡En el quinientos seis/ y en el dos mil también!)". E, adiante, diz que o cambalacho é a marca de seu tempo: "¡Siglo veinte, cambalache,/ problemático y febril!.../ El que no llora no mama,/ Y el que no afana es um gil". Fortaleza: do francês antigo fortalece, pelo português arcaico forteleza e o provençal antigo fortalessa, radicado em forte, do latim fortis, ligado ao panromânico foarte, forte, adjetivo, antônimo de fraco. Como substantivo, forte é sinônimo de fortaleza e designa construção militar estratégica, destinada a proteger vias de navegação e cidades. A Fortaleza da Conceição, no Rio de Janeiro, inaugurada em 23 de dezembro de 1718 para proteger a cidade, que tinha sido seqüestrada pelos franceses em 1711, foi proibida de disparar seus 36 canhões porque os tiros punham em risco os vitrais do Palácio Episcopal, segundo reclamação dos residentes, os bispos, que se queixaram ao rei dom João V (1689- 1750). Ali estiveram presos os inconfidentes de Minas e hoje o prédio abriga um museu do Exército. Parece piada, mas o autor do projeto era conterrâneo dos seqüestradores: o engenheiro francês João Massé. Calvinista, ele se refugiara na Inglaterra, de onde Portugal o trouxe para ajudar a combater as invasões francesas. Prudente: do latim prudente, declinação de prudens, prudente, previdente, capaz de prever, planejar, perceber antes, cuidar-se. O Brasil tem uma cidade dos prudentes. É Prudentópolis, no Paraná, a 207 quilômetros de Curitiba. O município homenageia o presidente Prudente de Morais (1941-1902), mas seu crescimento deve-seà imigração ucraniana. Em 1896, ali chegaram, quase ao mesmo tempo, 1500 famílias, vindas da terra onde nasceu a escritora Clarice Lispector (1925- 1977). Desde então a presença ucraniana aumentou muito, principalmente pelo cultivo das tradições dos ancestrais. Até hoje as ruas do município são identificadas em português e em ucraniano, língua que usa o alfabeto cirílico. A comunidade de 46 000 habitantes é marcada por grande religiosidade. Os ucranianos construíram na pequena cidade mais de trinta igrejas. Da cultura da terra natal, os prudentopolitanos trouxeram a xilogravura, os bordados típicos e a arte milenar de pintar ovos, chamada pêssanka no dialeto local. No centenário do município, que ocorre este ano, eles cantarão seu hino, que diz: "Hoje, no teu aniversário/ Aqui estamos a cantar,/ Amanhã, se necessário,/ Por ti iremos lutar".