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Flor que não murcha, a sempre-viva é também chamada saudades-perpétuas,...

... do latim solitate, declinação de solitas, solidão, e perpetua, ininterrupta. Como a vida não é perpétua, a lembrança, radicada no verbo latino memorare, recordar, alivia a saudade dos que se foram.

Deonísio da Silva Publicado em 29/07/2008, às 14h35

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Frustrar: do latim frustrare, falhar, fraudar, não ter o sentido esperado. O étimo comum deste verbo em várias línguas, incluindo o latim, é a raiz indo-européia "per", indicando força que conduz para fora, passando sobre algo. No latim, está presente nos prefixos per, prae e para. No grego, aparece em pára, de paradidático, por exemplo, como é denominado o livro que integra o ensino, está junto dele, mas fora do curso. No alemão, este étimo evoluiu e está presente em palavras como Frau (mulher), fremd (estrangeiro), first (destacado), fahren (conduzir). Este "f" inicial mudou em algumas palavras para "v", como em versagen, termo operacional de Sigmund Freud (1856-1939), traduzido por frustrar e frustração, neste último caso com inicial maiúscula por ser substantivo: das Versagen. Luiz Hanns (51), em Dicionário Comentado do Alemão de Freud, afirma: "Ao traduzir-se versagen por 'frustração', perde-se o sentido de fracasso/colapso (sentido raramente presente em português)". Entretanto, sem o conhecimento que Freud teve da língua, vários tradutores frustraram os psicanalistas, traindo o significado que ele quis dar a certas neuroses, pulsões e tensões. Lembrança: de lembrar, variação do arcaico nembrar, variante de membrar, por sua vez radicado no latim memorare, memorar, recordar, mais o sufixo "ança". Em latim, o sentido era igualmente de celebrar. Os romanos trouxeram da Grécia a deusa Mnemosina, mãe das musas, que dava a poetas e adivinhos o dom de auscultar o passado, trazendo à lembrança todos os feitos memoráveis dos heróis para que não fossem esquecidos. Em latim, seu nome foi adaptado para Memoria. Antes da invenção do alfabeto pelos fenícios, por volta do ano 1700 a.C., era muito valorizada a pessoa de memória prodigiosa, pois a transmissão do conhecimento era feita oralmente. Uma narrativa lendária ilustra a remuneração dos memoriosos. Simônides fez um poema enaltecendo o rei Céos na primeira parte e os deuses Castor e Polux na segunda. No banquete em que foram declamados os versos, o rei disse que pagaria apenas a metade, a outra metade o poeta deveria cobrar dos deuses homenageados. Em seguida, um mensageiro vem dizer a Simônides que dois jovens o aguardam no jardim. O poeta deixa o recinto, e o palácio desaba, matando todos os que estavam no banquete. Simônides, que guardou na memória o lugar e as roupas dos convidados, identifica os cadáveres. O pagamento dos direitos autorais consistiu na mensagem que lhe salvou a vida. Prêmio: do latim praemium, prêmio, originalmente designando presa tomada do inimigo e oferecida à divindade a quem era atribuída a vitória. A palavra foi formada no latim com o étimo de emere, tomar, subornar, e prae, antes. No butim, a primeira parte da rês ou de outro animal ou coisa tomados depois da batalha era oferecida à deusa Vitoria, em Roma, que na Grécia chamava-se Nike, filha do titã Pallas e da oceânida Estige. Tinha três irmãos: Bia, a Força; Crato, o Poder; e Zelo, o Ciúme. Comentando o maior dos prêmios mundiais, o Nobel, escreveu o jurista Saulo Ramos (79) no delicioso Código da Vida: "A academia sueca é completamente maluca ao contemplar com o Prêmio Nobel algumas figuras lamentáveis, como aquele Fo, da Itália, e o escritor alemão Günter Grass, nazista que foi oficial da Waffen-SS, tropa de elite e espionagem de Hitler (...)". Saudades-perpétuas: do plural de saudade, do latim solitate, declinação de solitas, solidão, provavelmente com influência do vizinho espanhol soledad e igualmente do latim perpetua, perpétua, contínua, ininterrupta. Foi primeiramente aplicada a coisas da natureza, como uma cadeia de montanhas, uma grande lagoa, os dentes de uma serra, e somente depois ao sentido metafórico de coisa que não morre, porque não é esquecida, de que é exemplo a frase ad perpetuam rei memoriam (para perpétua lembrança da coisa, do fato), que costuma ser gravada em monumentos. Saudadesperpétuas é o outro nome da planta chamada sempre-viva, cujas flores secam sem murchar. Em 1981, o escritor Antônio Callado (1917-1997) lançou um romance com o título de Sempreviva, sem hífen. Jornalista, dramaturgo e romancista, ele deixou saudade em seus leitores, com narrativas marcantes como Reflexos do Baile, Bar Don Juan e Quarup, sua obraprima. São do poeta Eurícledes Formiga (1924-1983), imbatível no improviso, estes versos sobre a saudade: "A saudade é um parafuso,/ Que, quando entra, não sai,/ Só entra se for torcendo,/ Porque batendo não vai./ Depois que enferruja dentro,/Nem destorcendo não sai".