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Favorita veio do latim favore, favor, para designar a filha predileta...

... do pai, a principal esposa do sultão ou a amante escolhida pelo rei. Já a palavra sacolé nasceu do cruzamento de saco, do semítico sak, e picolé e nomeia um tipo de sorvete embalado em saquinho.

Deonísio da Silva Publicado em 19/03/2008, às 14h00

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Azarado: de azar, do árabe vulgar az-zar, pelo francês hasard, infeliz, vitimado por má sorte, causador também da infelicidade de outros. O curioso é que Az-zar vem a ser plural de zahr, flor, como ensina João Baptista M. Vargens (55) em Léxico Português de Origem Árabe: Subsídios para os Estudos de Filologia (Editora Almádena). A palavra tomou vários significados em português, prevalecendo o de falta de sorte pois cartas e dados de jogo eram enfeitados com flores. Em reviravolta repleta de sutis complexidades, azarar veio a designar também o ato de namorar, o que pode ter levado, por motivos inconscientes, ao costume de oferecer flores às amadas ou a arriscar-se por elas, como no jogo. Favorita: feminino de favorito, do italiano favorito, radicado no latim favore, declinação de favor, favor. Nas origens, liga-se ao verbo latino favere, alimentar, auxiliar, proteger. Com o tempo veio a designar a filha predileta do pai, a principal esposa do sultão ou a odalisca preferida do harém. Na Europa, onde predominou a monogamia, ganhou o sentido de amante predileta do rei. Como trocasse favores amorosos na corte, a favorita passou a ser conhecida como cortesã, feminino do adjetivo cortesão que se tornou substantivo, sinônimo de meretriz, prostituta de luxo, ancestral da atual garota de programa ou acompanhante, palavras que também mudaram de significado: a garota é prostituta e o programa que faz tem a ver com sexo; do mesmo modo, acompanhante já não é apenas a "pessoa que faz companhia ou dá assistência a indivíduo doente, idoso, inválido, etc.", como restringe o dicionário Aurélio, mas também meretriz. Uma das mais célebres favoritas de reis foi Lola Montez (1818-1861), dançarina irlandesa que serviu a Ludwig I (1786-1868), rei da Baviera. Ameaçado pelo povo, o monarca livrou-se da amante. Para consolar-se, passou a construir castelos. Por fim, pressionado por ministros, abdicou. Depois dele, Ludwig II (1845-1886), seu neto, teve como favorito o compositor Richard Wagner (1813-1883), a quem enviava cartas apaixonadas. Quando Wagner se refugiou na Suíça, o rei, saudoso, também passou a construir castelos; e por fim, pressionado pelos ministros, renunciou, como o avô. Belos castelos da Alemanha resultaram desses amores. Porrada: de porra, do latim porra, plural neutro de porrum, porro, haste, como se nota em alho-porro, dito e escrito também alho-porró, alhoporrô, e alho-poró, erva utilizada como tempero, que tem folhas, bulbo e haste grossa. Uma arma romana de madeira, em forma de haste, semelhando o atual cassetete que os policiais levam à cintura, foi chamada de porra, origem do diminutivo porrete, usado para distribuir agressões físicas, ou porradas, nome dado, por metáfora, também à agressão verbal. Porrada é, igualmente, denominação comum a cozidos que levam alho-porro. Em discurso proferido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (62) no Rio de Janeiro, em 26 de fevereiro, a palavra aparece como sinônimo de bordoada e maus-tratos: "Se porrada educasse as pessoas, bandido saía da cadeia santo". O primeiro registro escrito da palavra no português é do século XII, nas famosas Leges (Leis), e provavelmente se referia impostos ou multas. No século XIII, aparece como sinônimo de cetro e de maça. No português coloquial, porém, porra e porrada consolidaram-se com significados obscenos, como assinalou frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo (1741-1822) em seu Elucidário das Palavras, Termos e Frases que em Portugal Antigamente se Usaram e que Hoje Regularmente se Ignoram. Diz o autor sobre "porra", então ainda com acento circunflexo: "Este nome a que a malícia dos tempos aligou uma idéia pouco decente, e que desterrado da gente cortesã, polida e grave se ouve tãosomente por entre a escória da população, ocupava, algum dia, honradíssimo lugar em o dialecto dos nossos maiores". Sacolé: do cruzamento de saco e picolé, designando picolé vendido dentro de saco plástico. Também a droga vendida em sacos semelhantes é chamada sacolé. Para chegar à língua portuguesa, saco fez longa viagem, que começou no semítico sak, passou pelo grego sákkos e pelo panromânico sac, chegando ao latim saccus, de onde veio ao português. Em todas essas línguas, designou originalmente receptáculo de couro, de tecido grosseiro ou de pano, que também servia como medida para o conteúdo, como em saco de trigo, de feijão, de café, existindo também a variante feminina saca. Hoje o mais comum é o saco plástico, muito usado em supermercados e lojas.