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Exilar, do latim exilium, é banir, degredar. Nem sempre...

...se trata de uma ação oficial. Pode ser opção pessoal ou única alternativa para quem se sente perseguido e, assim, precisa "vazar", de vacivus, em latim, verbo que significa esvaziar, mas tem sido usado com o sentido de sair, fugir.

Deonísio da Silva Publicado em 30/09/2007, às 09h28

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Açodamento: de açodar, apressar, provavelmente de origem onomatopaica, com influências do castelhano açomar, incitar ou atiçar o cão. Ainda no século XVI, o frei João de Ceita (1578-1633) escrevia num dos Sermões: "A mesma natureza açoda e accelera mortes repentinas...". E Jerônimo Cardoso, em seu Dictionarium ex Lusitanico in Latinum Sermonem, o primeiro dicionário da língua portuguesa, publicado em 1569, assim explicava a pressa: "Condiçom dos porcos teem os homens que comem açodadamente". Acusado de açodamento por interditar a pista do Aeroporto de Congonhas, dias antes da tragédia que matou 199 pessoas, Márcio Schusterschitz da Silva Araújo, procurador de Justiça, declarou: "Açodamento é liberar uma pista sem que se saiba qual sua relação com o acidente". Como que prevendo a tragédia, ele assinou, em colaboração com a também procuradora Fernanda Teixeira Taubemblatt, no dia 24 de janeiro, pedido de interdição da pista principal daquele aeroporto. Diz o documento: "Considerando, ainda,a inexistência das áreas de escape no aeroporto, a possibilidade de que uma dessas aeronaves deslize para fora do aeroporto, atingindo uma das avenidas que o circundam,é realmente palpável". Em entrevista ao jornal norte-americano The New York Times, ele resumiu numa frase muito bonita sua linha de ação para fechar o aeroporto: "É melhor escolher a vida ao dinheiro". Como se vê, os açodados, no caso, eram outros: aqueles que inverteram a frase e, entre a vida e o dinheiro, escolheram este último, sacrificando, com sua ganância,centenas de vidas. Carnaúba: do tupi karana'ïwa, de kara'na, palmeira, e ïwa, planta, ou uba, lugar onde há muitas dessas plantas. Trata-se de uma palmeira solitária de até 15 metros de altura, nativa do Nordeste do Brasil, de folhas palmadas e frutos carnosos, ovóides, conhecida também como carandá, carandaúba, carnaíba, carnaubeira, coqueiro-carandaí, paudo-bebedouro. Os produtos mais importantes da carnaúba são a cera, obtida das folhas, e a madeira, muito utilizada em construções. O fruto, de polpa comestível, é usado no preparo de doces e de farinha. A árvore dadivosa oferece ainda a amêndoa, da qual se extrai óleo, e raízes de propriedades medicinais, que, quando reduzidas a cinza,substituem o sal de cozinha. Nos tempos do bom ensino, os alunos eram apresentados à carnaúba ainda nos primeiros anos escolares, no famoso parágrafo de abertura do romance Iracema, do cearense José de Alencar (1829-1877): "Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba. Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros. Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas. Onde vai como branca alcíone buscando rochedo pátrio nas solidões do oceano?". Ainda hoje este parágrafo aparece em numerosas provas de concursos públicos. Exilar: de exílio, do latim exilium, exílio, banimento, degredo. O verbo está presente na língua portuguesa desde o século XIII. O exílio é tema freqüente em nossas letras, começando pela Canção do Exílio, do maranhense Gonçalves Dias (1823-1864): "Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o Sabiá;/ As aves que aqui gorjeiam,/ Não gorjeiam como lá./ Nosso céu tem mais estrelas,/Nossas várzeas têm mais flores,/ Nossos bosques têm mais vida,/ Nossa vida mais amores". Alguns dos versos deste poema foram parar no Hino Nacional. Outro poeta brasileiro, o mineiro Murilo Mendes (1901-1975), que passou muitos anos na Itália, brincou bem-humorado com as dificuldades de viver em terra estranha: "A gente não pode dormir/ Com os oradores e os pernilongos./ Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda./Eu moro sufocado em terra estrangeira./ Nossas flores são mais bonitas/ Nossas frutas mais gostosas/mas custam cem mil réis a dúzia./ Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade/ E ouvir um sabiá com certidão de idade!" Vazar: alteração de vaziar, de vazio, vacivus em latim, que tem também o verbo vacare, estar desocupado, vazio. A palavra vazar aparece no livro Sol de Portugal, de José Vieira, publicado em 1918: "Uma senhora de Penacova arrancou o cabelo da cabeça, pô-lo dentro da bacia d'água e todas as manhãs lá ia vazá-la e deitar outra nova". O jornal popular Meia Hora, do Rio, registrou em manchete, no dia 22 de agosto, outro sentido desta palavra, utilizando o verbo como sinônimo de fugir: "Joca dá rasteira no tráfico da Rocinha e vaza com 2,5 milhões".