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Etimologia

Redação Publicado em 20/03/2012, às 01h14 - Atualizado às 01h18

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Cigano: do grego bizantino atsínganoi, escrito também athínganos e athígganos, significando intocável, pelo francês antigo tsigane, depois cigain. É assim denominado um povo nômade, que emigrou da Índia para a Europa, espalhando-se dali para muitas outras regiões do mundo, tendo também chegado ao Brasil. Chamam a si mesmos manuche e rom. Quico, calom, gitano e boêmio são outras designações pelas quais são conhecidos na cultura luso-brasileira.

Geômetra: do grego geométres, agrimensor, mas cujo significado mudou, ficando mais próximo de arithmetikós e mathematikós, designando a profissão de quem estuda não apenas a Terra, presente no composto grego geo, mas o universo. O professor carioca Júlio César de Melo e Sousa (1895-1974), mais conhecido pelo pseudônimo Malba Tahan, que publicou 120 livros para ensinar Matemática de forma divertida e curiosa, dedica seu título mais famoso, O Homem que Calculava, aos “sete grandes geômetras cristãos ou agnósticos: Descartes, Pascal, Newton, Leibnitz, Euler, Lagrange e Comte”, acrescentando, como é próprio de conhecido lamento árabe, “Allah se compadeça desses infiéis”.

Hirco: do latim hircus, bode. Seu étimo está no adjetivo hircino, presente neste trecho de O Feiticeiro, do escritor baiano Xavier Marques: “Aí perdera longas horas e noites engolfado nos gozos perversos mas esquisitos do candomblé, estimulado e entontecido pelo cheiro hircino.” “Hircocervo” inexiste na língua portuguesa, mas o latim hircocervum designa animal mítico da Antiguidade clássica, metade bode, metade veado. Eis alguns “hircocervos” simbólicos, criados pelo professor e romancista italiano Umberto Eco (80) para designar brincadeiras que fez sobre autores e títulos absurdos, inexistentes, mas com base real: Agatha Cristo, Os Dez Pequenos Apóstolos; Claudia Cardinal Ottaviani, A Moça de Mitra; Fjodor Tolstoebskij, Guerra e Castigo; Santo Tomás de Aquino, Suma Mafalda; Sergej Einstein, Cinema=Energia. As personalidades referidas indiretamente são a escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976), a atriz italiana Claudia Cardinale (73), o cardeal Alfredo Ottaviani (1890-1979), os romancistas russos Fiodor Dostoievski (1821-1881) e Leon Tolstoi (1828-1910), o autor de Suma Teológica, Tomás de Aquino (1225-1274), confundido com o cartunista argentino Quino, pseudônimo de Joaquín Salvador Lavado (79), e o cineasta russo Sergej Eisenstein (1898-1948), mesclado ao cientista judeu-alemão Albert Einstein (1879-1955).

Narrar: do latim narrare, cujo étimo é gnarus, o que sabe, antônimo de ignarus, o que não sabe, o ignorante. Malba Tahan dedica seu livro O Homem que Calculava, entre outros, ao matemático, astrônomo e filósofo Buchafar Mohamed Abenmusa Al Kharismi (780-850), cujo sobrenome está na palavra algarismo, exclamando que “Allah o tenha em sua glória.” E chama a si mesmo Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan.

Velhaco: do celta bakallakos, pastor, camponês, pelo espanhol bellaco, homem de má vida, cujos códigos morais não merecem respeito, seja por má conduta nos negócios, seja por seus costumes devassos e libertinos. É um dos sinônimos de cigano, na quinta acepção que lhe dá o dicionário Houaiss: “Que ou aquele que trapaceia; burlador, velhaco.” Cléber Eustáquio Neves,  procurador da República em Minas Gerais, baseando-se em que, “ao se ler em um dicionário, por sinal extremamente bem conceituado, que a nomenclatura cigano significa aquele que trapaceia, velhaco, entre outras coisas do gênero, ainda que se deixe expresso que é uma linguagem pejorativa, ou, ainda, que se trata de acepções carregadas de preconceito ou xenofobia, fica claro o caráter discriminatório assumido pela publicação”, requereu a proibição do dicionário.

Zíngaro: do italiano zingaro, cigano. Dada a proximidade das duas línguas, o cantor italiano Nicola Di Bari (72) canta estes versos, pronunciando zíngaro como em português: “Che colpa ne ho/ se il cuore è uno zingaro” (“Que culpa tenho eu/ se o coração é um zíngaro”). O escritor cearense Gustavo Barroso (1888- 1959) usa a palavra em Terra do Sol: “Muitos sertanejos se misturam aos bandos vagabundos de zíngaros que vivem à gandaia pelas várzeas.”