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Estarrecedor, do latim vulgar exterrescere, é o que faz cair por terra de tanto

...medo. Hoje, porém, usa-se mais esse adjetivo para fenômenos que chocam e entristecem o coração, do latim culto cor, do que para os que o fazem disparar de terror.

Deonísio da Silva Publicado em 26/10/2006, às 17h46

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Andorinha: do latim hirundina, diminutivo de hirunda, andorinha. O nome da ex-prefeita de São Paulo Luíza Erundina de Souza (71), paraibana de Uiraúna, foi inspirado na etimologia da denominação desta ave, igualmente migrante. Há 14 espécies de andorinhas no Brasil. Elas vêm do Hemisfério Norte fazer ninho aqui. Instalam suas moradas em ocos de pau, em barrancos e nos telhados das casas. Por metáfora, andorinha passou a designar um carro apropriado para mudanças e também a prostituta, que vaga de um lugar a outro à procura de clientes. No livro Ética a Nicômaco, Aristóteles (384-322 a.C.), ensinando que não se deve tirar conclusões de um único indício, nem se entusiasmar com uma única qualidade de alguém, registra conhecido provérbio, já vigente na Grécia antiga: "Uma andorinha só não faz primavera". No Brasil, a estação é outra: "Uma andorinha só não faz verão". Batizar: do latim eclesiástico baptizare, batizar, ligado ao grego baptizo, mergulhar, porque os primeiros ritos batismais consistiam em mergulhar o indivíduo na água de rios, como fez São João Batista ao batizar Jesus Cristo no Rio Jordão. Ainda hoje muitas igrejas, ao contrário da católica, que apenas asperge as crianças com gotas de água do batistério, mergulham os crentes, já adultos, em rios próximos às sedes onde são realizados os cultos. Mas batizar significa também dar nome a pessoas e a eventos. Na Rádio Nacional, na década de 1930, numa cena de humor, habitual naqueles programas de auditório, um português explica a razão de ter batizado os quatro filhos com determinados nomes: "Eu tive o primeiro. Um menino. Como a primeira letra do analfabeto é o A, botei-lhe o nome de Arnesto. O segundo foi um menino também. A segunda letra é o B, não é? Pois então botei-lhe o nome de Bastião. O terceiro foi um menino também. De acordo com a terceira letra, que é o C, botei-lhe o nome de Calixto. E, por fim, quebrou a escrita: veio uma menina. E, como a quarta letra é o D, daí botei-lhe o nome: Dona Maria". Coração: de origem controversa, provavelmente do latim vulgar coratione, aumentativo, radicado em corde, declinação de cor, coração no latim culto, mas pronunciado cordaço, cordaçom, até chegar a coraçom, coração. "Agüenta, coração!", exclamação muito utilizada nas narrações esportivas de Galvão Bueno (56), veio da Grécia antiga, passando por Portugal. Foi originalmente registrada pelo poeta grego Homero (século 9 a.C.) na Odisséia. Ulisses, disfarçado de mendigo, ao voltar para casa depois de longa ausência, nota que até suas escravas fazem o papel de alcoviteiras para os pretendentes de Penélope, sua esposa, e exclama: "Agüenta, coração! Já suportaste coisas bem piores". Estarrecedor: adjetivo formado do verbo latino vulgar exterrescere - no latim culto é exterrere -, que significa espantar-se, cair por terra por medo ou terror, assustado com algum fenômeno. No sentido metafórico, tem sido aplicado não somente ao que espanta mas também desconcerta, como neste trecho do livro Marx Enganou Jesus... E Lula Enganou os Dois (Editora Soles), do professor e jornalista gaúcho José Hildebrando Dacanal (63): "É estarrecedor que sucessivos governos tenham pretendido e pretendam enfrentar a tragédia demográfico-social brasileira distribuindo dinheiro e cestas básicas, medidas que, além de inócuas, são contraproducentes a médio e longo prazos". Navegar: do latim navigare, pela formação nav(is), nave, agere, fazer, significando percorrer rios e mares a bordo de uma nave, primeira designação latina para uma embarcação, depois transposta também para indicar o avião, aeronave, e a nave espacial. Pesquisando as navegações de longo curso, de vez em quando surgem novidades que questionam terem sido Cristóvão Colombo (1451-1506), em 1492, e Pedro Álvares Cabral (1467 ou 1468-1520 ou 1526), em 1500, os primeiros a chegarem, respectivamente, à América e ao Brasil. O best-seller mundial 1421- O Ano em que a China Descobriu o Mundo (Bertrand Brasil), de Gavin Menzies (69), resultado de 15 anos de pesquisas, assegura que os chineses chegaram à América 70 anos antes do genovês. O caso mais surpreendente, porém, é o da Austrália: os chineses teriam ali aportado 350 anos antes de James Cook (1728-1779). Os navegadores asiáticos teriam ainda passado pelo Estreito de Magalhães 60 anos antes de Fernão de Magalhães (1480-1521) ter nascido. "Em 1418 a China já sabia da existência do Brasil", diz o autor, "o país já aparece nos mapas do almirante Zhen He daquele ano". Em sua narrativa Menzies apresenta mapas antigos, conhecimentos específicos de navegação, astronomia e relatos feitos por exploradores chineses e navegadores europeus. Também cita pedras gravadas e artefatos deixados para trás pela esquadra do imperador, as evidências dos juncos submersos ao longo da rota e oferendas votivas ornamentadas que foram deixadas pelos marinheiros chineses em todos os lugares onde desembarcaram, em agradecimento a Shao Lin, a deusa do mar.