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Escapada, do latim excappare, deixar a capa, sair de situação...

...embaraçosa, vale também para ocultar a identidade em atos ilícitos. E intimidade, do latim intimus, profundo, que se guarda para si, já designou lugar, em residências e palácios, para descanso e atos amorosos.

Deonísio da Silva Publicado em 10/02/2006, às 16h46

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Celeuma: do grego kéleuma, pelo latim celeuma, comando, ordem, grito. No grego designava o canto cadenciado do chefe dos remeiros para sincronizar o movimento dos remos. No latim conservou tal significado e agregou canto semelhante dos trabalhadores das vindimas. Das lides náuticas e da agricultura passou a qualquer tipo de vozerio, vindo depois a indicar discussão acalorada, constituindo-se em sinônimo de polêmica. Aparece em Luís de Camões, do escritor português Aquilino Ribeiro (1885-1963): "No meio do rebuliço, celeuma e insensatez geral, ninguém fazia caso do poeta." O cantor Djavan (57) tem uma música com o título de Celeuma: "Encrencado, acusado/ por uma falta que não condiz,/ eu prefiro morrer/ a dar ouvido a celeuma/ e lhe perder." Escapada: de escapar, do latim excappare, deixar a capa, sair de situação embaraçosa. A capa, do latim cappa, veste masculina usual, à noite tinha também a função de ocultar identidade em atos ilícitos. Mas, em caso de flagrante, deixava-se a capa, que dificultava a fuga. Esse sentido literal levou ao figurado, como mostra texto do gaúcho Voltaire Schilling (61) que apresenta o livro Como Fazer a Guerra: Máximas e Pensamentos de Napoleão, do francês Honoré de Balzac (1799-1850): "Nas suas contumazes escapadas dos credores, Honoré de Balzac, um eterno endividado perseguido por letras vencidas, conseguiu alugar, em 1828, uma pequena e modesta vila na saída de Paris. Recorreu a um nome falso para assinar o contrato. Era um ponto estratégico situado entre o Observatório e um convento, o que permitiria a ele, em caso de extrema necessidade, saltar o muro dos fundos e ganhar o campo para desaparecer. Nessa nova moradia, uma das tantas em que viveu, condenado àquela vida de cigano fujão, colocou sobre a caixa que guardava os seus arquivos um busto de Napoleão." Fâmulo: do latim famulus, escravo, criado, que pertence a uma família, de provável origem na raiz osca fame. Os oscos eram um antigo povo da Campânia, na Itália. A raiz está presente também em família, do latim familia, conjunto de escravos e moradores do mesmo domus, casa, em que o chefe era o dominus, e a dona, a domina. Mas o fâmulo era mais criado do que escravo. O latim medieval sclavus veio do grego bizantino sklábos, nome genérico de um povo trazido para cativeiro, conhecido como slavus, eslavo. O criado tinha outra origem: creatus, criado pela familia na domus, onde todos moravam, origem remota de domicilium, presente quando declaramos ao Estado que podemos residir onde queiramos, mas nosso domicílio deve ser só um e é ali que seremos procurados para obrigações e impostos. Com a introdução do cristianismo em Roma, o pai, a mãe e o Estado arrebataram funções divinas. Como o latim tem casos e declinações, foi o acusativo patrem, de pater, que nos deu padre, pae e finalmente pai. Mãe veio de mater, pela declinação matrem. Irmão, de frater germanus, irmão legítimo, cujas partes estão presentes em fraternidade, fraterno, fraternal, e de outra parte em irmão, irmandade, irmanar. Intimidade: de íntimo, do latim intimus, dentro, profundo, mais além, e o sufixo idade. Antes de indicar foro particular, realidades que o indivíduo guarda apenas para si, intimidade designava o lugar de residências e palácios reservado ao sono, ao descanso e aos atos amorosos. Mas a noção de privacidade era mais ampla. Tanto em tempos primitivos como no apogeu da aristocracia as pessoas faziam reunidas o que hoje fazem reclusas, como o amor, por exemplo: os primeiros reis e rainhas dormiam em aposentos partilhados com fidalgos e damas. Líder: do inglês leader, radicado em lead, chumbo, provavelmente função nascida de etapa decisiva no processo civilizatório, quando a descoberta do chumbo possibilitou a fabricação de armas que substituíram o pau e a pedra. Tornara-se viável, assim, a formação de grupos que precisavam de alguém, arma na mão, a organizar o ataque ao inimigo. Os comandantes que travavam outras guerras, a comercial, por exemplo, passaram a liderar com outras armas, mas o vocábulo permaneceu, a indicar diversos tipos de líderes, como os religiosos e os políticos. Também as armas foram substituídas: espadas e lanças cederam a palavras e togas. Oportunidade: do latim opportunitate, declinação de opportunitas, decorrência da atividade de ventos que empurram o barco em direção ao porto. Antigos romanos tinham um deus para os portos, Portunus, e outro para os mares, Neptunus. Importunar equivalia a impedir que naus e embarcações alcançassem o porto, mas depois o sentido foi aplicado por metáfora a quem atrapalhava qualquer atividade, não mais em alto-mar, mas em terra. E oportunidade passou a significar ocasião favorável, semelhante à vivida por marinheiros e pilotos nas lides da navegação.