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O erro do companheiro não deve ser apagado, mas pode ser perdoado

por Alberto Lima* Publicado em 05/04/2011, às 00h24 - Atualizado em 15/08/2012, às 19h17

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O erro do companheiro não deve ser apagado, mas pode ser perdoado
O erro do companheiro não deve ser apagado, mas pode ser perdoado

Errar é humano; perdoar é divino", afirma o dito popular. Mas o que pensam sobre o assunto os casais que já viveram decepções? Para aquele que foi ferido, a falta alheia soa diabólica. É penoso para ele encontrar em seu peito o bálsamo para a própria dor, pois se sente esvaziado de qualquer esperança e supõe que não exista cura possível para tamanho sofrimento. O outro, considerado leviano, irrefletido, abandonador, não pode aliviá-lo; e ele próprio não se vê capaz de superar a crise com seus próprios recursos, uma vez que se sente só e atirado ao Tártaro. A vivência é de ter sido condenado, sem chance de apelação. O perdão é o caminho, mas requer leveza de alma, e esta parece ter sido dinamitada pelo faltoso. Há erros possíveis de serem absorvidos e aceitos. Em alguns casos, até se admite conviver com aspectos sombrios do parceiro. A alma torna-se resiliente, ou seja, restaura-se com relativa facilidade. Há circunstâncias, no entanto, que atingem a região do sagrado e são muito difíceis de tolerar. O sentimento experimentado é o de ter sido ferido profundamente. Resultado: rancor, mágoa, indignação, muitas vezes acompanhados de fantasias de vingança. Esclareço: raramente o agredido pensa em devolver a dor ao agressor na mesma moeda. O que acontece é que ele não consegue comunicar ao outro qual é a intensidade da dor que sente. A imagem de vingança surge então como uma tentativa de comunicação: só conseguirei transmitir o que sinto se puder causar no outro uma dor semelhante à que me foi infligida. Perdoar é diferente de desculpar. Quando se desculpa alguém, o que se faz é isentá-lo de culpa, fazer com que desapareça, de modo mágico, a causa da dor. Não é saudável negar a agressão, por isso não se deve desculpar o faltoso - e é falta de caráter deste desejar que sua culpa seja simplesmente apagada. Para o agredido, a desculpa seria vivida como um "deixar barato", o que não configura solução honrosa. Já perdoar implica preservar a oportunidade de que o outro - que de fato errou, admite a falha e se envergonha por ela - não reincida. Per dare, no latim, tem o sentido de uma abertura para o futuro, mesmo em face de uma falta no passado. Para a dor sofrida, a cicatrização é a cura possível. Não há como se fazer operação plástica na alma. A intolerância, o amargor e a eternização da mágoa - indícios de que o perdão ainda não foi possível - fazem mal a quem não perdoa, mas não ao agressor. Por que, então, torturar-se? Haveria por traz disso a crença de ser merecedor da agressão? A pessoa que não perdoa amputa uma parte de si. No caso de um relação amorosa, ao banir seu objeto de amor, ela mata o próprio amor, justamente aquilo que sente como mais sagrado em seu repertório pessoal. Como sugere o dito popular mencionado, o perdão surge da centelha do divino contida em cada pessoa. Se é verdade que Deus é amor, deve ser igualmente verdadeiro que a capacidade amorosa é o aspecto divino do humano. Não exercê-lo seria o mesmo que contentar-se apenas com o banal e o profano. Ou, o que é pior, não perdoar seria preencher-se do que há de mais diabólico no campo humano: a presunção de julgar e condenar. Ter-se-ia decretado de uma vez por todas a falência do amor.