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Erário, do latim aerarium, lugar na antiga Roma onde se guardavam as

...leis gravadas em bronze, é hoje o dinheiro público, riqueza muitas vezes dilapidada por governantes que buscam somente fama e glória, do latim gloria, em vez de buscar o bem do cidadão.

Deonísio da Silva Publicado em 11/10/2006, às 20h29

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Deonísio da Silva
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Anuênio: neologismo desjeitoso e arrevesado, criado por legisladores para designar o período de um ano, inspirados em analogia incorreta com biênio (dois anos), qüinqüênio (cinco anos) e decênio (dez anos). Se realmente fosse dessa maneira, o correto seria "uniênio", como em quadriênio (quatro anos), sexênio (seis anos), setênio (sete anos) e novênio (nove anos). Para o período de oito anos não existe a denominação assemelhada, no entanto seria "octênio". Dois: do latim duos, variação de duo, dois. Também foi acrescentado um "s" na acepção do latim ambo, os dois ao mesmo tempo, que passou ao português como ambos. Apesar de soar esquisita, a expressão "ambos os dois" é gramaticalmente correta e está abonada por gente culta e bem pensante como o escritor português Alexandre Herculano (1810-1877) - "(...) o certo é que ambos os dois caminhavam juntos" - e o poeta português Luís Vaz de Camões (1524-1580) - "(...) de ambos os dois a fronte coroada" -, o baiano Rui Barbosa (1849-1923) - "Ambas as formas são gramaticais? São-na ambas as duas" - e o carioca Machado de Assis (1839- 1908) - "(...) e ambos os dois disseram: é uma mocetona". Outras línguas cometem o mesmo pleonasmo. No francês, diz-se tous les deux; no inglês, both the two; no italiano, ambedue; no japonês, futari tomo; no húngaro, mindketto; e no sérvio, oba doá. Erário: do latim aerarium, de bronze, designando um lugar no templo do deus Saturno, na antiga Roma, onde eram guardadas as leis gravadas em bronze e as insígnias militares. Aes, em latim, é bronze, cobre, latão. Aerarium tornou-se sinônimo de dinheiro, mas consolidou-se como conjunto de recursos públicos à disposição do Estado. Diz-se também tesouro, fazenda. No Brasil das últimas décadas, na medida em que foram rebaixadas as qualificações dos parlamentares, nasceram expressões estranhas à língua portuguesa, de que são exemplos "urgência urgentíssima" e "erário público": nas duas os adjetivos são dispensáveis porque pleonásticos, redundantes. Urgência indica pressa e erário já significa dinheiro público. Glória: do latim gloria, glória, vindo do grego klyo, entender, e kléo, louvar, exaltar. Num dos mais belos trechos de Os Lusíadas, do português Luís Vaz de Camões, o personagem Velho do Restelo admoesta os poderosos que mandam os navegadores do país arriscarem a vida em alto-mar em busca de glória e fama: "Ó glória de mandar, ó vã cobiça/ Desta vaidade a que chamamos Fama,/ Ó fraudulento gosto que se atiça/ Com uma aura popular que honra se chama,/ Que castigo tamanho e que justiça/ Fazes no peito vão que muito te ama/ Que mortes, que perigos, que tormentas/ Que crueldades neles experimentas!" Imissão: do latim immissione, imissão, do verbo immitere, imitir, pôr dentro, fazer alguém entrar. Na imprensa, quando da ocupação de propriedades pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), lê-se muitas vezes que o juiz determinou "imissão de posse" aos donos legítimos, o que significa que eles podem entrar outra vez na propriedade. Apesar de apoiada em gramáticas, a expressão não é correta, uma vez que quem tem garantia de imissão é o proprietário, não a propriedade. Quem redigiu o Código de Processo Civil deixou claro que é "imissão na posse", como se vê no artigos 625 e 879, parágrafo I. O português Eça de Queirós (1845-1900) usa palavra semelhante - imisção -, mas que tem o sentido de intrometer-se: "O horror dos democratas a qualquer imisção dele, mesmo remota, nos negócios republicanos da França, subiu a tal ponto que, quando o general Appert, embaixador de França na Rússia, se começou a tornar muito íntimo e familiar do czar e a tomar chá no Palácio de Inverno mais vezes do que as exigidas pelo protocolo, o general Appert foi brutalmente demitido!" Admitir, emitir, omitir e demitir derivam do mesmo tronco latino. Lio: de ligar, do latim ligare, ligar, no sentido de atar, prender, como o boi ao arado. Passou a sinônimo de feixe, como neste trecho de Terra do Sol, livro de estréia de Gustavo Barroso (1888-1959), que o publicou aos 23 anos, ocupando-se de refletir sobre usos e costumes do sertão do Ceará, seu Estado natal: "(...) finas ripas de mororó seguras de lios arrochados". Barroso publicou 128 livros de história, folclore, ficção, biografias e até mesmo dicionário e poesia. Na estréia usou o pseudônimo João do Norte. E mais tarde também Nautilus, Jotanne e Cláudio França. Lio não é palavra de uso freqüente. Em vez de lio de chaves, por exemplo, diz-se molho, talvez do latim manipulus, punhado. Parelha: do latim vulgar paricula, feminino de pariculus, parecido, semelhante. Aplicou-se originalmente na agricultura e na pecuária- parelha de bois, parelha de cavalos -, mas abrange duplas de outra natureza. Dois versos são chamados de parelha. Nas estrofes, quando se alude a três versos, diz-se terceto; a quatro, quarteto; a cinco, quintilha; a seis, sextilha; a sete, setilha; a oito, oitava. Estrofes de nove versos são raras. As de dez chamam-se décimas. Já a estrofe com versos de cinco sílabas chama-se redondilha menor; de sete sílabas, redondilha maior.