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Ed Motta e sua luta pela redenção

Ele admite erro e se desculpa após declarações fortes na internet

Redação Publicado em 14/06/2011, às 16h38 - Atualizado em 17/06/2011, às 12h44

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Nerd e cinéfilo assumido, ele brinca com a espada Jedi, de Star Wars. - SELMY YASSUDA/ARTEMISIA FOT. E COM.; ASSISTENTE: SILVIA PAZ
Nerd e cinéfilo assumido, ele brinca com a espada Jedi, de Star Wars. - SELMY YASSUDA/ARTEMISIA FOT. E COM.; ASSISTENTE: SILVIA PAZ
Artista de opinião forte e sem medo de patrulhas, Ed Motta (39) sentiu recentemente o peso das palavras. Após comentários em sua página do Facebook, dizendo, entre outras coisas, que o povo brasileiro é feio (à exceção do Sul e de São Paulo) e "mulher feia tem que ser megacompetente. Se não é Paula Toller nas cabeças. Linda, burra e sem talento", o músico está visivelmente constrangido e bastante envergonhado. Desculpas, ele não se furta de pedir. Admitiu que as declarações foram brincadeiras "grosseiras", "inconsequentes" e "infelizes", aditivadas por muitas garrafas de vinho em uma viagem a Curitiba. E, logo ele, um nerd assumido, fã de Star Wars e cinema em geral, evidenciou uma certa ingenuidade tecnológica, quando disse ter acreditado que seu perfil na rede social com 5000 "amigos" estivesse fechado - além dessas pessoas ninguém mais poderia vê-lo. "Gente que é amiga conhece o meu humor, acidez, sarcasmo. Sabe que o que escrevi não era para levar ao pé da letra, tinha uma dose enorme de ironia. É claro que soa a coisa mais esdrúxula do mundo um cara que não é padrão de beleza falar sobre isso", explicou ele. As reações vieram em enxurradas, e também cobertas de ofensas. Mas o que o deixou magoado foi perceber que tudo que faz em termos de divulgação de obras raras musicais e informações culturais, também pela internet, ter sido esquecido no "linchamento". Inclusive a reconhecida importância da sua trajetória. Ou pelo menos parte dela. "Um jornal de São Paulo disse que minha carreira se restringiu às décadas de 80 e 90. Ninguém lembrou que foi nos anos 2000 que a minha música explodiu na Europa e, aqui no Brasil, fiz a trilha de 7 - O Musical, que ganhou muitos prêmios", desabafou. - Como foram as reações? - As pessoas ficaram com muita raiva, criaram uma página no Facebook chamada "Cala a boca Ed Motta", fecharam duas páginas minhas nessa rede social por denúncia. Um cara me perguntou na internet: e você, é algum símbolo de beleza? Eu não estava dizendo que era símbolo de beleza, tinha bebido umas oito garrafas de vinho no almoço e estava a fim de encher o saco. E aí falei que era um ser superior, e isso foi horrível. Mas muitas pessoas, quando bebem, têm vários ataques de seres superiores, ficam se achando incríveis, e eu talvez não seja diferente de tantas assim, com sentimentos variados, posso chorar, posso rir, posso ficar chato, aquelas coisas típicas da bebedeira. Mas minhas declarações foram 100% inconsequentes, não faria isso nunca em estado normal. O que fiz me gerou e gera ainda vergonha. Mas também teve uma calhordice, uma hipocrisia muito grande, em cima de mim, algo bastante pessoal. - Muito arrependido? - Claro, não me orgulho do que fiz, foi uma piada idiota, não sou humorista, não ganho para isso. Mas tiraram do contexto o que escrevi. E isso gerou um grande ódio. Na verdade, parece que ninguém busca o entendimento, o porquê. Quem me acompanha, lê as minhas entrevistas, sabe que nunca houve nada nesse teor, sempre teve muita crítica, falação, reclamação, da minha parte, mas nada de ofensa desagradável a um colega de trabalho ou declarações preconceituosas. Meu Deus, apesar de enxergar com absoluta clareza meu erro, não consigo concordar com o peso que foi dado. - Mas, de verdade, o brasileiro é bonito ou feio? - Tem gente feia e bonita. Mas não acho que o feio seja inferior. Se fosse assim, eu ia acabar me matando. Mas a gente não precisa ser calhorda e não falar que os caras do Sul são mais bonitos realmente. É um padrão hollywoodiano. - Apesar de ter se desculpado, você ficou irritado.... - Sou uma pessoa que faço um serviço cultural de graça para o cidadão brasileiro, de pôr links de artistas e discos de coisas obscuras, raridades, informações valiosas para quem gosta de música no Twitter e no Facebook. E o único momento em que fui notado foi quando estava bêbado e fiz uma piada infeliz. Achei muito injusto. - Assustou a repercussão? - Bastante. Fiquei abismado de como as pessoas conseguem se mobilizar para serem covardes em cima de algo que preferem não apurar. As pessoas têm a coragem de atacar uma coisa que fala de um cotidiano completamente medíocre, de bobagem de um bêbado... - Mas as pessoas não sabiam que você estava bêbado... - É verdade... - Teve reação das mulheres? - Sim, claro, foi horroroso. Não gosto de falar que sou um defensor das mulheres, mas através dos links que ponho na internet faço uma ode à sensibilidade delas o tempo inteiro. A mulher na história da música, as grandes criadoras sempre ficaram em um papel de eminência parda, escondidas ou esquecidas pela história... Exemplos como Carla Bley, Mary Lou Williams, Laura Nyro, artistas que admiro bastante. - Falou com a Paula Toller? - Pedi desculpas em geral, não diretamente a ela. Paula também não comentou nada. - Você já sofreu preconceito? - Gordo é sempre motivo de graça. É terrível para a saúde, detesto ser assim, mas acabou me levando para a clausura, trouxe o temperamento de ermitão. Por não ser símbolo de beleza, não ia às festinhas. Enquanto todo mundo dançava, ria, estava em casa estudando, pesquisando enciclopédias de música, cinema, vendo a filmografia do Frank Capra. Assisti a quase tudo do Stanley Kubrick de moleque. Mas não era exlcuído dos grupos nem sofria bullying. As pessoas queriam que estivesse com elas, modéstia à parte, pela inteligência. Nunca fiz mal a ninguém, como até hoje não faço. Se alguém me chamava de "rolha de poço", falava "coitado, ele nem sabe que eu conheço a discografia do Earth, Wind and Fire".