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Do latim refugium, refúgio é proteção, guarida para quem está fugindo

...â¬" como as pessoas que precisam sair de territórios em guerra. Nos campos de refugiados que se formam nessas circunstâncias falta de tudo, especialmente comida, do latim comedere, aquilo que alimenta.

Deonísio da Silva Publicado em 09/11/2006, às 17h54

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Comida: do feminino do particípio passado comido, do verbo comer, do latim comedere. É o que alimenta. Europeus passaram a comer outras coisas desde que a América foi descoberta. Nas quatro viagens que Cristóvão Colombo (1451-1506) fez à América, entre 1492, quando a descobriu, e 1504, foram descobertos também o milho, o abacaxi, a batata-doce, o feijão, o amendoim, pimentas e muito mais. A batata que os europeus levaram e hibridizaram com outras variedades é originária do Peru e da Bolívia. Foi descoberta por Francisco Pizarro (1475-1541). Em Portugal, tornou-se batata-doreino; na Inglaterra, batata-inglesa. Quem consulta o verbete batata nos dicionários da língua portuguesa encontra uma variedade ainda maior, algumas de nomes muito curiosos, como a batatade- caboclo, a batatinhade- cobra, a batata-deveado, a batata-do-barão e a batata-do-inferno. Homossexual: do prefixo homo, do grego homós, igual, semelhante, e sexual, do latim tardio sexualis, aludindo, entretanto, apenas ao feminino, sendo depois estendido ao masculino e aos outros gêneros designados a partir de novos usos e costumes. Modernamente, a referência maior é à questão de gênero, e não à de sexo. Homossexualé palavra acolhida pela primeira vez num dicionário de língua portuguesa por Cândido de Figueiredo (1846- 1925), em 1899. Nos textos de prosa e de verso, até recentemente, em termos históricos, aparecia apenas como deboche. Rubem Fonseca (81), em Feliz Ano Novo, livro que ficou proibido por 14 anos pela censura do regime militar, apresenta um jornalista homossexual atormentado com sua opção. É Pedro Redgrave, colega de redação de Nathanael Lessa no jornal Mulher, feito exclusivamente por homens, que, disfarçado de leitor, manda cartas em que tenta revelar-se, mas ainda sem coragem de assumir: "Eu amo, um amor proibido, um amor interdito, um amor secreto, um amor escondido. Eu amo outro homem. E ele também me ama". Feita a confidência, diz: "É melhor morrer. Adeus. Esta é a minha última carta". E recebe a resposta animadora do colega: "Vai desistir agora que encontrou o seu amor? Oscar Wilde sofreu o diabo, foi esculhambado, ridicularizado, humilhado, processado, condenado, mas agüentou a barra. Façam testamento um para o outro. Sejam, como os outros, egoístas, dissimulados, implacáveis, intolerantes, hipócritas. Explorem. Espoliem. É legítima defesa. Mas, por favor, não faça nenhum gesto tresloucado". Idiotismo: do grego idiotismós, pelo latim idiotismus, costumes conhecidos de poucos, gênero de vida particular, em oposição ao que é comum. Exemplos de idiotismos na linguagem são as expressões idiomáticas, de difícil, às vezes impossível, tradução como "a vaca foi pro brejo", que Millôr Fernandes (83), sempre atento às sutis complexidades de nossa e de outras línguas - é um de nossos melhores tradutores, mas a fama de humorista impede que também este seu talento seja reconhecido - traduziu para o inglês como "the cow went to the swamp". A frase é engraçada, mas não traduz o sentido, apenas as palavras, literalmente, uma a uma. O mesmo Millôr cunhou um insólito agradecimento aos portugueses: "Se não fossem eles estaríamos até hoje falando tupi-guarani, uma língua que não entendemos". Refúgio: do latim refugium, refúgio, asilo, proteção, guarida. De acordo com a etimologia, quem busca refúgio está fugindo, pois o vocábulo radica-se em fugire, fugir. E este é o caso dos milhões de refugiados que hoje abandonam seus países pelos mais diversos motivos e buscam abrigo em outros, sendo as guerras os grandes motivos de maciços deslocamentos em todo o mundo, mas principalmente na Europa, na Ásia e na África. O escritor gaúcho Nei Duclós (56) dá, entretanto, à palavra refúgio um sentido mais ameno em seu livro O Refúgio do Príncipe: Histórias Sopradas pelo Vento (editora Empreendedor). Ao identificar, em Florianópolis, o lugar adequado para viver em paz, diz: "Que o nosso refúgio não sejam as paredes altas, mas a confiança nos outros". O livro é um verdadeiro hino de louvor à capital catarinense, apesar de várias de suas crônicas registrarem momentos adversos na história da cidade, como o triste episódio de 1979, quando o presidente João Baptista Figueiredo (1918-1999) quase se atracou com estudantes que protestavam contra uma homenagem ao marechal Floriano Peixoto (1839-1895).Tabaco: do árabe tabbaq pelo espanhol tabaco, designando plantas que faziam com que seus consumidores tonteassem ou adormecessem. Apesar de a palavra estar documentada na Espanha desde 1410, tabaco consolidou-se em nossa língua para designar o que conhecemos também por fumo. Nesse sentido seu nascimento tem data: no dia 15 de outubro de 1492, quando, numa ilha das Bahamas, primeiro território americano descoberto por Cristóvão Colombo, o navegador viu "homens e mulheres com charutos nas mãos", de acordo com os registros feitos em seu Diário de Bordo dias depois. Colombo viu o fumo antes mesmo de conhecer os alimentos que depois levaria para a Europa.