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Dinheiro não compensa a frustração. Parceiros precisam renovar o afeto

Nahman Armony Publicado em 08/03/2006, às 17h08

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Ser jovem é ter mil planos na cabeça. A vida é um mar aberto, navegado com esperança e entusiasmo; seu porto de chegada é uma bela e alegre existência sonhada. Geralmente o timoneiro almeja ter um companheiro de viagem, ao mesmo tempo seu amor e sócio. Como amor, deverá preencher todas as necessidades afetivas e corporais vivenciadas nas primeiras relações com a mãe, e desenvolvidas em subseqüentes relacionamentos amorosos. Espera-se que o carinho, a carícia e a realização sexual surjam exatamente na hora e na medida desejada; espera-se que os pontos psíquicos sensíveis de cada um sejam reconhecidos, respeitados e tratados com delicadeza. Só a vida em comum irá desfazer a ilusão de tal encaixe perfeito, onde o companheiro corresponderia exatamente ao desejo do outro. Há um difícil trabalho a realizar para a aceitação gradativa dos desencontros e das diferenças individuais. Outra ilusão a ser desfeita refere-se à face de sócio da relação amorosa. No pólo ideal espera-se que o parceiro venha a conquistar posições profissionais, financeiras e sociais extraordinárias. A fantasia originária que corresponde a esse desejo, nós a encontramos na figura do Pai Primitivo, aquele que era visto pela criança como capaz de satisfazer a todas as necessidades materiais e afetivas. Assim como o inconsciente sonha com um amoldamento perfeito, que remete à vivência com a Mãe Originária, também sonha com a proteção onipotente ancorada no Pai Primitivo. Essa proteção fantasmática ecoa nos aspectos financeiros e sociais do casal. E, se não atende à expectativa inconsciente de um Pai Provedor, a credibilidade do cônjuge fica abalada. Será então preciso um trabalho de discriminação entre a figura do parceiro e a personificação inconsciente do Pai Todo-Poderoso, para que a relação amorosa não tome rumos tempestuosos. Os ideais excessivos, ainda ligados aos desejos e fantasias infantis onipotentes, deverão ser desbastados até corresponderemàs capacidades e limitações de cada cônjuge, e do casal como um todo. A situação torna-se mais aguda se os proventos da mulher superam os do homem. Estamos aqui diante de uma diferença. Embora ambos esperem acolhimento carinhoso (mais associado à Mãe Primitiva) e proteção onipotente (mais associada ao Pai Primordial), os desejos distribuem-se de forma desigual. A mulher mais exige do homem sucesso financeiro e profissional e o homem mais espera da mulher agrado, meiguice e aconchego. Imbricam-se essas expectativas inconscientes com a mentalidade na qual estamos mergulhados. Campeia em nossa sociedade a competição predatória, o consumismo, o exibicionismo, a inveja, o desejo de estar acima dos outros, a lei do "toma-la-da-cá". A materialidade e o mercantilismo sufocantes invadem o lar. Provocam picuinhas, implicâncias, comparações, acusações, brigas. Fala-se, por exemplo, do último modelo de televisão que o vizinho ou amigo já tem e o casal ainda não pôde comprar. E de quem é a culpa? A mulher dirá que é do marido. Ele irá sentir-se desvalorizado, culpado, envergonhado. Mas em algum momento dará o troco, escancarado ou sutil. A retaliação talvez seja: "Você não sabe cuidar da casa, de mim, dos filhos", ou qualquer outra agressão que mexa com a competência dela. Os pontos fracos de cada um serão farpeados. O amor inicial que os uniu esmaece e é substituído pela ânsia voraz de estar o mais próximo possível do topo da pirâmide social. Para reverter a situação é preciso ressuscitar o amor adormecido, colocando-o acima das ambições financeiras e sociais. Então será possível uma convivência mais harmônica e prazerosa, com mais satisfação para o casal e maior segurança para os filhos.