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Desuso, do latim usare, usar, mais o prefixo des, que indica negação, é...

...deixar de ser usado. Algumas palavras caem em desuso, enquanto outras ganham novos significados, como rogar, do latim rogare, que de início era perguntar e passou a ser pedir, suplicar.

Deonísio da Silva Publicado em 05/10/2006, às 17h27

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Coletivo: do latim collectivus, do particípio collectum, de colligere, reunir. Coletivo é uma categoria de substantivo que está no singular, mas dá idéia de plural. Pode ser geral, como em exército, ou partitivo, como em batalhão, que, conquanto agrupe muitos soldados, faz parte do exército. Alguns coletivos da língua portuguesa são de origem obscura, como piara (bando de animais pequenos), teoria (de anjos), fato (de cabras) e chafardel (de ovelhas). Outros sofreram deslocamentos, como batelada, que é um batel carregado. Batel veio do francês antigo batel, atualmente bateau, designando a maior embarcação dentre as pequenas que serviam às grandes, em geral naus, navios e galeões. Batelada passou a designar grandes quantidades. Outros coletivos revelam arraigados preconceitos, como chamar o povo de choldra, que originalmente foi palavra que designa bando de malfeitores, sendo sinônimo de corja. Alguns coletivos são conhecidos apenas de agricultores, como é o caso de meda, monte de cereais antes de serem debulhados, enfeixados ainda com as hastes. Desuso: de desusar, de usar, do latim usare, usar. Não são apenas roupas e idéias que caem em desuso - o mesmo ocorre com palavras. Gare foi substituída por estação, plataforma. Reclame deu lugar a comercial, da redução de publicidade comercial, anúncio comercial. Grimaça cedeu a vez a careta, trejeito. Grande mundo era a alta sociedade, expressão paradoxal, porque a alta sociedade era e é composta de poucos, mas o grande tinha valor qualitativo e não quantitativo. Meta: do latim meta, meta, objetivo, designando originalmente monte ou pilha de cereais, galhos, lenha. Aplica-se também a qualquer objeto de forma cônica que sinalize caminho, marco, baliza. Designa ainda o conjunto de três paus que compõem as traves no campo de futebol. Proeza: do francês antigo proece, hoje prouesse, radicado no latim prodesse, ser útil, mas provavelmente por forma verbal diferente: prode est, é útil. Ganhou o sentido de ousadia porque foi aplicado, desde os primórdios da palavra, a algo difícil de ser conseguido. Usualmente indicando atos de valor, ganhou mais tarde também um sentido pejorativo, de travessura. Pode ter recebido influência do latim prora, proa, a parte da frente do navio, em oposição à popa, a parte de trás. Rogar: do latim rogare, cujo significado original era perguntar, de que há vestígios em interrogar. Passou a sinônimo de pedir, suplicar, como aparece nas rezas católicas - os fiéis repetem quase indefinidamente depois de cada invocação aos santos, nas ladainhas, a fórmula "rogai por nós". No latim, a expressão equivalente está no singular "ora pro nobis". No direito, rogar adquiriu o sentido de, mais do que solicitar, fazer uma proposta, como no caso de propor uma lei, e deste verbo nasceram muitos outros, entre eles ab-rogar, ad-rogar, ob-rogar, subrogar. Em latim, não têm hífen: abrogare, adrogare, obrogar, subrogare. Ab-rogar equivale a suprimir, cassar, tornar sem efeito, pois "ab" indica afastamento; em ad-rogar, que também é escrito arrogar, a partícula "ad" sugere proximidade, como na frase "ele se arroga o direito de decidir", isto é, traz o direito para si; ob-rogar tem o sentido de tirar uma coisa para pôr outra em seu lugar; e sub-rogar é transferir direito, obrigação ou encargo a outro. E ainda temos derrogar, do latim derogare, que o poeta português Bocage (1765-1805) utilizou em versos célebres: "Da morte férrea a lei não se derroga/ nas páginas fatais é tudo eterno/ o que se escreve ali jamais se risca". Talião: do latim talione, declinação de talio, talião, relacionado com talis, tal, igual, semelhante. Designa antigo tipo de pena que consistia em aplicar ao agressor o mesmo dano que tivesse causado a outrem. Todavia há algumas impossibilidades. Um de seus primeiros registros está na Bíblia, em Êxodo 21, 23, logo depois de comentar violência de homem contra mulher grávida, da qual sobrevenha o aborto. No caso, como aplicar a lei do talião? Por isso, o versículo 23 começa com uma adversativa: "Mas, se resultar desgraça, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão". Nos versículos seguintes, dispõe sobre o olho perdido de escravos, cuja causa tenham sido os maus-tratos, determinando que as vítimas sejam ressarcidas com a liberdade, que poderia ser obtida também se as agressões resultassem em dentes quebrados. O legislador desce a minúcias no texto bíblico, disciplinando sobre chifradas de boi: se o animal atacasse uma pessoa, surpreendendo com o gesto abrupto até o dono, deveria ser apedrejado até a morte e sua carne não poderia servir como alimento; se o dono soubesse, teria de ser apedrejado e morto também. No caso de abigeato - roubo de gado-, a lei do talião prescrevia mais do que o mesmo dano: cinco bois por um boi roubado e quatro ovelhas por uma subtraída. Algumas vezes a pena proposta era de 200%, como no caso de roubo de dinheiro vivo.