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Comum entre políticos para o financiamento de campanhas,...

...caixa dois, o dinheiro não declarado, formou-se do latim capsa, arca, e duo, dois. Felizmente, o pernicioso hábito está em xeque. Já rol, que significa lista, teve origem no latim rollus, pergaminho enrolado.

Deonísio da Silva Publicado em 22/02/2006, às 17h12

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Caixa dois: da junção de dois, do latim duo, originalmente dous em português, e caixa, do latim capsa, arca, recipiente para guardar frutas, papéis, dinheiro ou todos os dons, como no mito da caixa de Pandora, que guardava todos os males para que não se espalhassem pelo mundo. Zeus (Júpiter) enviou a virgem Pandora, bela, insinuante, com caixinha e tudo à Terra. Nem deusa nem semideusa, mas sintética, pois criada na célebre oficina de Hefaístos (Vulcano), o cupincha-mor do líder divino, a moça ofereceu o regalo a Prometeu, cujo significado é prudente. Ele não a quis e saiu em disparada, temendo a estonteante tentação. Aceitou-a o irmão do primeiro, Epimeteu. O nome em grego quer dizer imprevidente, desmemoriado. De fato, esquecera que Prometeu o advertira para que não aceitasse presentes do chefão dos deuses. Os males espalharam-se pelo mundo, só restando no fundo da caixa a esperança. Pandora em grego significa todos os dons. Nenhum dos deuses, porém, deu-lhe sabedoria, temerosos de que tomasse iniciativas que os contrariassem. Foi a primeira caixa dois. O Aurélio define caixa dois como "controle de recursos desviados da escrituração legal, com o objetivo de sonegá-los à tributação fiscal" e manda conferir "economia invisível e contabilidade paralela". A expressão caixa dois tem aparecido com freqüência na imprensa, de que é exemplo este trecho de um artigo do jornalista Elio Gaspari: "Caixa dois é crime tributário. Centenas de milhares de brasileiros vivem na informalidade, azucrinados por fiscais achacadores e meganhas corruptos, porque vendem melancias, prestam pequenos serviços ou oferecem badulaques nas ruas. Esses trabalhadores não pagam impostos, mas gastam o seu ganho em Pindorama. São o caixa dois da senzala. Nada tem a ver com as contas da casa-grande e dos grão-marqueteiros de contas caribenhas. Numa só campanha, esses espertalhões superfaturam e sonegam mais impostos do que todos os camelôs do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Salvador num ano." Demiurgo: do francês démiurge, vindo do latim demiurgus e este do grego demiourgós, pela formação demio, do povo, público, e ourgós, que produz. Para Platão (428-348 a.C.), era o artesão divino que, conhecedor de modelos eternos e perfeitos, organizou o caos. Seu sentido primitivo é, pois, o de construtor. Antigas seitas cristãs tinham outro conceito de demiurgo: intermediário de Deus que se responsabilizava pelo mal no mundo - inevitável, mas que não poderia ser obra divina. O redator de Notas & Informações, do jornal paulistano O Estado de S.Paulo, de 26 de janeiro último, utilizou o conceito do filósofo grego para criticar pronunciamento presidencial marcado pela arrogância: "Na solenidade de assinatura do projeto da Ferrovia Litorânea Sul, na terça-feira, o presidente Lula novamente se proclamou o demiurgo do Brasil do futuro, modernizado e desenvolvido. (Em outras circunstâncias, diante de outros públicos, entra em cena o Grande Benfeitor ou o Grande Inovador.)" Rol: do latim medieval rollus, pergaminho enrolado, depois de utilizado para a escrita, antes de inventada a encadernação. No latim culto é rotulus, rolo, cilindro. Por trazer relação de coisas diversas - mercadorias, localidades, mapas - ganhou o significado de relação, lista. O British Film Institute, segundo nos informa o escritor e professor Jaime Pinsky (org.) no livro Cultura & Elegância, publica de dez em dez anos, em sua revista Sight and Sound, listas dos melhores filmes de todos os tempos. Faz isso desde 1952. No rol da última aparece Cidadão Kane, Um Corpo que Cai, A Regra do Jogo, O Poderoso Chefão I e II, Contos de Tóquio, 2001: umaOdisséia no Espaço, O Encouraçado Potemkin, Aurora, 8/12 e Cantando na Chuva. Todos os diretores são da Europa ou dos Estados Unidos, exceto Yasujiro Ozu (1903-1963), que escreveu, em parceria com Kogo Noda, e dirigiu o filme Tokyo Monogatari, traduzido para Contos de Tóquio, cujo tema solar é o desapontamento dos pais que visitam os filhos já crescidos e vêem neles indiferença e ingratidão. Vanglória: de vão, do latim vanus, vazio, raiz presente também em evanescente, aquilo que desaparece, e glória, do latim gloria, palavra ligada aos verbos gregos klúo, saber, e kleo, chamar, nomear para ser aclamado, exaltar. A palavra aparece neste trecho de artigo de Marco Aurélio Nogueira no Jornal do Brasil de 7 de outubro do ano passado: "Quando um partido ingressa em um estado de vanglória extrema, sai do reino razoável da política e passa a estabelecer relações instrumentais com todos os demais atores políticos, que passam a ser, para ele, objetos descartáveis, manipuláveis ou neutralizáveis." E ainda nos versos de Medeiros Braga: "Em troca, ainda, aliança/ Espúria e contraditória, / Sobpretextos medíocres/ Feitos de farpa e vanglória,/ Só vem abalar as crenças,/ Só vem manchar a história" (site: usinadeletras.com.br).