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Competitividade e jogos de poder só complicam os relacionamentos

por <b>Rosa Avello</b>* Publicado em 10/11/2009, às 21h49 - Atualizado em 11/11/2009, às 18h01

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Competitividade e jogos de poder só complicam os relacionamentos
Competitividade e jogos de poder só complicam os relacionamentos
A mente humana, como a de outros animais, é regida pelo modelo "matar para não morrer". A competitividade, que tornou nossa espécie dominante na natureza, hoje se reflete na política, nos esportes, no comércio, nas escolas. O sucesso é para quem luta e vence. Um "sistema de recompensa" cerebral registra como prazerosas as situações em que superamos o outro e nos condiciona a repeti-las. Não é para menos. Até os 15 ou 20 anos, na maioria das culturas, somos dependentes e subordinados aos adultos. O primeiro modelo de relação que vivemos é de poder. Passamos todo o tempo tentando obter do outro o que imaginamos que ele não quer nos dar. Conclusão: tomamos como "naturais" os relacionamentos "desnivelados", nos quais nos sentimos ora "por cima", ora "por baixo". Podemos até nutrir expectativas de viver vínculos harmônicos, mas não temos preparo para isso. A competitividade é da nossa natureza - e quanto antes o admitirmos, antes começaremos a administrar o desejo de submeter e controlar a quem amamos. Segundo o psiquiatra americano Eric Berne (1910-1970), muitas interações sociais e afetivas que parecem destinadas à harmonia escondem motivações competitivas. Quando não estamos conscientes dessas motivações, ou até mesmo quando agimos de maneira competitiva por opção, estabelecemos o que ele chamou de "jogos psicológicos de poder". Eles destinam-se a manter os relacionamentos superficiais para que possamos controlar a entrega do outro e a nossa - prevenindo-nos contra a ameaça que o outro representa. O leitor deve estar se perguntando: "Como podemos temer alguém a quem amamos?" Bem, a simples noção de que o outro é independente e pode nos deixar a qualquer momento já é uma grande ameaça. Estar em uma relação é conviver dia e noite com o medo de perder. Algumas pessoas são tão competitivas que não suportam essa idéia e entram em pânico quando o parceiro age de forma autônoma - sai com amigos sem levar o cônjuge, não fala muito do trabalho, busca momentos de reserva e solidão. Essas pessoas têm a fantasia de que serão abandonadas porque o parceiro não "necessita" delas e o terror as leva a criar jogos de controle para manipular o outro e mantê-lo "acorrentado". A dinâmica é tão poderosa que o parceiro tem dificuldade de se desvencilhar, ainda que se sinta sufocado. Pessoas assim literalmente matam os relacionamentos. O único jeito de eliminar esses jogos da relação é desenvolver confiança em si e aprender a entregar-se. Para chegar a isso, no entanto, é necessário, antes, tornar-se consciente de que os jogos existem, atentando para situações que se repetem. Sabe quando a gente tem a sensação de saber como uma situação vai acabar? É comum que nessas circunstâncias esteja envolvido um jogo de poder. Sabendo disso, nada mais indicado do que conversar com o parceiro e assumir a própria parcela de responsabilidade no imbróglio - sempre lembrando que tais jogos muitas vezes são inconscientes, o que aumenta as chances de entendimento. O resultado do esforço vai depender do grau de sanidade mental de ambos, pois com o tempo os jogos geram neuroses - ou intensificam as já existentes.