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Ciúme é bom até certo ponto. Em excesso, torna-se doença, obsessão

Redação Publicado em 09/08/2011, às 17h58 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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Na canção Medo de Amar, feita em parceria com Tom Jobim (1927-1994), Vinicius de Moraes (1913-1980) diz que o ciúme “é o perfume do amor”. E, como os poetas entendem mais de amor do que os psicólogos, só posso concordar. Quem ama tem ciúme. Desde os bebês, que querem o amor exclusivo dos pais, cachorros e gatos, até os apaixonados, que não querem dividir com ninguém a pessoa amada, todos sentem ciúme. Até certo grau é um sentimento saudável, natural e que realmente dá um colorido, ou, como disse o poeta, “perfuma” o amor. Quem diz que não sente ciúme se defende para não sentir amor. Não ter ciúme pode significar desinteresse, que é o oposto do amor.

Integrar (aceitar) o sentimento do ciúme é importante, por exemplo, quando a criança percebe que o amor dos pais não é exclusivo, que precisa ser dividido com os irmãos, o que não o torna menor. É assim também com a pessoa amada. Ainda que tenha amigos e outros interesses, isso não significa que nos terá menos amor. Integrar o ciúme é valorizar a capacidade de nosso companheiro de ter amigos, de gostar da família, de não ter um amor exclusivo.

Contudo, quando sai do limite do amor, o ciúme pode se tornar doentio, uma obsessão. O tema já inspirou romancistas, poetas e compositores — William Shakespeare (1564-1616), com seu Otelo, que matou a linda Desdêmona, e Machado de Assis, com a Capitu e o Bentinho de Dom Casmurro, são exemplos bem conhecidos. Nos jornais, quase todo dia lemos sobre crimes cometidos por ciúme, muitas vezes seguidos de suicídio. Isso não é amor. É um desejo de posse total, que não permite a felicidade ao amado.

Mas como saber se o ciúme passou dos limites da normalidade? Em primeiro lugar quando, mesmo não havendo motivos, a pessoa se sente ameaçada pela perda. Quando não suporta que o parceiro tenha amigos, ou vida própria, ou crenças diferentes. E quando existe o desejo de controlar a vida do outro.

O ciumento geralmente tem autoestima baixa, sente-se inferior e tortura-se com pensamentos de infidelidade. Um medo desproporcional corrói seus sentimentos, tira seu sono e empata sua vida. Ele examina celular, carteira e bolsa do parceiro, checa telefonemas e e-mails. Contrata até detetives para seguir o parceiro e ter provas concretas de sua infidelidade — que muitas vezes não é real.

Mas com ou sem provas o ciumento não sossega. O problema é ele, não o outro. É comum que esse tipo de ciúme esteja ligado ao alcoolismo e/ou a outras perturbações emocionais que demandam tratamento. A pessoa deve procurar ajuda para descobrir de onde vem a insegurança, a falta de confiança que não acaba, mesmo trocando de parceiro. Este, por sua vez, não deve tentar provar inocência, mas insistir para que o ciumento se trate.

O ciúme exagerado não é racional, por isso provas não resolvem. Ademais, a fidelidade não pode ser imposta. É inerente ao caráter da pessoa. Ninguém pode garantir que seu amor não acabará. O que pode garantir é que será leal, que não mentirá. Por fim, vale dizer que sentir um pouco de ciúme valoriza nosso parceiro, que se sente com isso mais amado, podendo até emocionar-se com os versos finais da canção citada no início deste artigo: “Não se surpreenda se uma outra mulher/Nascer de mim, como do deserto uma flor/ E compreender que o ciúme é o perfume do amor.”