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Célula-tronco é esperança contra paralisia dos membros inferiores

Lilian Piñero Marcolin Eça Publicado em 01/06/2006, às 17h26

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Lilian Piñero Marcolin Eça
Lilian Piñero Marcolin Eça
Entre os pouco mais de 20 brasileiros com paralisia dos membros inferiores que receberam tratamento experimental com células-tronco, vários recuperaram a sensibilidade e alguns já se movimentam com a ajuda de andadores. É um resultado fenomenal, embora ainda requeira muita pesquisa. Na verdade, por enquanto, nem podemos afirmar que o resultado se deva de fato à terapia. É possível - embora pouco provável - que a recuperação dessas pessoas acontecesse de qualquer forma, em função das outras ações de reabilitação adotadas, como a fisioterapia. Portanto, mesmo que estejamos esperançosos, precisamos ter cautela. Não devemos criar expectativas antes da hora. Para que se entenda do que estamos falando, é importante explicar o que são células-tronco. Quando o espermatozóide se une ao óvulo, nasce a célula primordial de um novo ser. Ela se divide muitas vezes, criando, depois de sete dias, um aglomerado chamado blastocisto. Essas células contêm toda a informação necessária para formar qualquer um dos 216 tecidos do organismo. Por isso recebem o nome de células-tronco. Uma coisa que poucos sabem é que nem todas se especializam e que carregamos células-tronco pelo corpo inteiro. Depois do nascimento, elas são chamadas "adultas". É com estas que estão sendo feitos os experimentos no tratamento das lesões da medula espinhal.A idéia básica é aumentar a oferta dessas células na região afetada para que se transformem nas células nervosas da medula danificadas no acidente. A indicação é só para quem tem a medula lesionada por um trauma. A aplicação deve ser feita o quanto antes, logo depois que a região desinflamar e for avaliado que não há possibilidade de recuperação espontânea. A operação dura cerca de 4 horas, com anestesia geral e transfusão sanguínea. Com o uso de agulhas próprias, o cirurgião faz punções na medula do osso da bacia. Em geral, seis punções são suficientes para se obter de 50 a 80 ml de material. Numa câmara esterilizada, o biólogo molecular separa as células-tronco de tudo o mais que veio junto com elas. Ele precisa obter, no mínimo, 1 milhão de células, que logo serão injetadas num vaso sanguíneo bem próximo da lesão. Está feito. Resta esperar pelos resultados. A região das punções fica dolorida, mas não se conhecem outros riscos. Até hoje, o paciente que apresentou resultado mais exuberante foi o jovem paulistano Paulo de Tarso Polido (26), que tinha 19 anos quando sofreu um acidente de motocicleta e perdeu os movimentos abaixo da cintura. Ele recebeu a aplicação em 2002 e já caminha com o andador. Criou a organização não-governamental Viva com Igualdade, Qualidade e Integridade (Viqui), que, entre outras funções, arrecada fundos para pesquisas na área. No Brasil, já avançamos no uso de células-tronco para tratar doenças do coração e estamos pesquisando, em animais, sua ação em malformações craniofaciais (lábio leporino) e na neurofibromatose (que gera tumores nos nervos). No exterior, já se obteve bons resultados com humanos nos casos de osteogênese imperfeita (quando os ossos se fraturam facilmente). Além da medula óssea, células-tronco adultas são encontradas em quantidade no cordão umbilical e no tecido adiposo, produto da lipoaspiração em geral descartado. Esse material pode ser muito útil no tratamento de doenças genéticas, embora o paciente tenha de tomar por toda a vida medicamentos que combatam a rejeição, por serem de outra pessoa. Ainda há bastante a pesquisar, sim. Não sabemos nem mesmo se as células-tronco se transformam na célula doente, se fundem com ela ou levam a ela substâncias que a ajudam a se regenerar. Enquanto procuramos a resposta, porém, nada nos impede de ficarmos felizes quando vemos pacientes que estavam presos à cadeira de rodas se movimentando.