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Casal de hoje precisa conviver com uma "instabilidade estável"

Nahman Armony Publicado em 04/08/2008, às 15h48

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Uma pergunta anda preocupando muitos casais: será possível alcançar a estabilidade de uma união hoje, com tantas mudanças nas relações entre homem e mulher? A dúvida procede e tem raízes profundas e antigas. Ameaçados por predadores, doenças e até pelo clima, nossos ancestrais pré-históricos viviam em permanente estado de insegurança. O desenvolvimento de instrumentos de defesa e o domínio do fogo reduziram um pouco esse sentimento, mas não o eliminaram. Inventaram-se então os deuses protetores. Ainda assim, a insegurança persistia. As religiões monoteístas trariam outra alternativa de alívio para o mal: a vida pós-morte, que, se vivida no paraíso, traria felicidade e segurança eternas. O homem tinha, então, o olhar projetado para o além da vida. Com a filosofia do francês René Descartes (1596-1650) e a física do inglês Isaac Newton (1642-1727) as coisas mudariam: havia a promessa da felicidade plena ainda em vida, pelo desenvolvimento da ciência, que nos livraria de doenças e nos daria máquinas que resolveriam todo tipo de problema. Nesse clima de otimismo o homem deixou de aceitar a incerteza como parte da vida e passou a exigir estabilidade, segurança e felicidade permanentes de si e dos outros. Essa mentalidade predomina ainda hoje, embora já haja brechas por onde a insegurança se infiltra. Uma delas é o setor amoroso. Saímos de um período em que se esperava que os casais namorassem, casassem e fossem felizes para sempre. Havia um simulacro de estabilidade. Uma estabilidade tipo "eu mando, você obedece". A paz reinava à custa de sofrimento e sacrifício ocultos e o troféu era "a família feliz", a estabilidade, enfim. Com o advento das relações igualitárias, as divergências vieram à tona. A mentalidade de ponta não aceita que um dos membros do casal fique em posição submissa, reprimindo desejos e sentimentos para manter suposta paz. E agora? Como conciliar as diferenças? E como cada um irá lidar com a sensibilidade do outro? Se penso dizer algo que poderá ferilo, devo me calar? Mas e se, em emudecendo, acumulo ressentimentos que irão estourar mais tarde? Até onde devo passar por cima de meus sentimentos em respeito à sensibilidade dele? E será que ele tem igual cuidado? Até onde me sacrificarei pela pessoa que amo? A resposta a essas questões não é precisa, depende da sensibilidade momentânea do casal, fruto de experiências cotidianas com o parceiro e com o mundo, do estado de espírito, da saúde e de outros fatores. A bússola se encontra no vir a ser da relação. A cada ação há uma resposta que deverá ser levada em conta para a próxima ação, e assim por diante. Haverá momentos em que um poderá receber maior carga mobilizadora e ser compreensivo. Em outros, estará mais frágil, incapaz de suportar o peso da susceptibilidade do parceiro. Se concebermos dois pólos extremos - "pensando em mim" e "pensando no outro" - e os ligarmos por uma linha de gradação, poderemos dizer que a possibilidade de uma relação satisfatória está na flutuação do casal por essa linha imaginária, ocupando a cada momento o ponto mais conveniente para seu escorregadio equilíbrio. O par alcançará então uma segurança insegura, uma instabilidade estável. Esta poderá ser a baliza de referência para o entrosamento do casal.