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Cacá Rosset: o talento paulistano para o mundo

Alma do grupo Ornitorrinco, ator e diretor abre a personalíssima casa e exibe dotes e tesouros

Redação Publicado em 21/12/2009, às 10h35

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Cacá Rosset posa na sala principal de sua ampla cobertura, em SP, ao lado de livros sobre mestres do teatro e... - ADILSON FELIX
Cacá Rosset posa na sala principal de sua ampla cobertura, em SP, ao lado de livros sobre mestres do teatro e... - ADILSON FELIX
Paulistano da gema, Carlos Eduardo Zilberlicht Rosset (55), Cacá Rosset, é um dos principais homens de teatro do país. Criador há 32 anos do Grupo Ornitorrinco, ele acaba de lançar luxuoso livro que leva o nome da companhia e relembra trabalhos seus que marcaram a história do nosso teatro, como Ubu - Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes, três anos e meio em cartaz; Teledeum, dois anos; e O Doente Imaginário e Sonho de Uma Noite de Verão, dois anos e meio em cartaz, cada. Após a sua mais recente montagem, A Megera Domada, de William Shakespeare (1564-1616), que lotou durante 2008 as quase 1000 poltronas do Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, Cacá tem ido a Nova York afinar detalhes de sua nova peça, do americano Christopher Durang (60), cujo título guarda em segredo. Judeu de raízes polonesas e francesas, corintiano e expert em futebol a ponto de já ter sido comentarista esportivo na TV, Cacá abre a cobertura de personalíssimo décor em Higienópolis, região oeste de SP, e fala da vida com o humor e o brilhantismo usuais. - Como criou o Ornitorrinco? - Foi em maio de 1977, no porão do Teatro Oficina, em SP. O teatro está lá, mas este porão sumiu na reforma que fizeram. A companhia surgiu em um cubículo, de maneira literalmente underground. Quem nos emprestou foi Luís Antônio, irmão já falecido do Zé Celso Martinez Corrêa, dono do Oficina, que passava temporada em Portugal. Estreamos reunindo três peças de Strindberg e um espetáculo de cabaré baseado em Brecht e Weill. Era tudo no boca-a-boca, não podíamos cobrar ingresso, passávamos o chapéu no final. O grupo foi fundado por mim, pela atriz Maria Alice Vergueiro, a quem conheço desde sempre, e pelo saudoso Luiz Roberto Galizia. Prefiro trabalhar com quem tenho afinidades artísticas e pessoais. - Sua mãe é médica. Seu pai, engenheiro. Por que a arte? - A paixão pelo teatro começou aos 11 anos, no Aplicação, um dos primeiros colégios experimentais do Brasil. Comecei a ter aulas de teatro justamente com Maria Alice Vergueiro. Mais tarde, a reencontrei na Escola de Artes e Comunicação da USP, onde fiz Artes Cênicas. Quando criamos o Ornitorrinco, eu ainda era aluno, 'hippie de butique'. Fazíamos sessões de quarta a domingo, duas no sábado, duas no domingo. Sempre foi assim, com Ubu, O Doente Imaginário e Sonho de uma Noite de Verão. Hoje o teatro virou atividade diletante, de final de semana. - Suas hipocondria e manias são famosas. Como vão? - Mais brandas. Isso nunca chegou a atrapalhar a ponto de ter de me tratar. E a hipocondria e a obsessão mórbida pela simetria nunca chegaram ao palco ou à cama. Imagine um ator em cena com tal síndrome? Ou um amante? Tragicômico... - O que mudou no grupo? - O mundo e nossas visões dele, mas a premissa do Ornitorrinco é a mesma: fugir do maniqueísmo "teatrão com atores globais X teatro alternativo." Este segundo tem coisas interessantes, mas vive confinado a guetos. Queríamos fugir da dicotomia perversa do 'teatrão'; desejávamos um teatro independente, mas popular, que 'falasse' a mais gente, ao povo, como Shakespeare e Molière. - Sempre morou em SP? - A maior parte da vida. Estou há 15 anos neste apartamento, antes morava em outra cobertura, também em Higienópolis. Morei nos Estados Unidos um ano, aos 14. Mas sempre viajei muito, especialmente com o grupo. Embora não pareça, quando estou em SP sou caseiro. Minhas especialidades domésticas são o ovo frito, 'crispy' e molinho por cima, e o dry martini, mas com vermute francês. - Como anda a vida afetiva? - Estou solteiro, o meu táxi está andando vazio. Por quatro anos e meio fui casado com Teresa Freire, bailarina que atuou no Ornitorrinco. Até estive envolvido com duas pessoas ao mesmo tempo, mas as relações hoje estão voláteis, inconsistentes.