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Apenas um amor sólido é capaz de superar diferenças de mentalidade

Nahman Armony Publicado em 09/10/2007, às 18h41

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Nahman Armony
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Assisti recentemente ao drama Quando um Homem Ama uma Mulher (1994), do diretor mexicano Luis Mandoki (53). O filme fala de um amor sólido, substantivo e perseverante. Tanto que resiste a grandes diferenças de mentalidade. Fala de um casamento que quase se desfaz, porém retoma a vitalidade quando brechas abertas no psiquismo dos envolvidos permitem a compreensão mútua. Se ficarmos atentos não só às linhas mas também às entrelinhas da história, dela tiraremos um bom proveito. Desde o início, um férreo liame une Alice e Michael. Há muito amor circulando entre os dois e, depois, entre os quatro, quando um par de filhos vem se acrescentar à família. Uma tragédia, porém, estava à espreita. Alice retorna ao alcoolismo, no qual já havia se refugiado no passado, e afasta- se do lar. Mais tarde, volta e tenta se readaptar à vida familiar, ao mesmo tempo em que freqüenta os Alcoólicos Anônimos. Aqui já se coloca uma interrogação: se a família era tão feliz, como pôde o alcoolismo se insinuar nela? Neste ponto o filme nos oferece pistas para começarmos a entender como um casal que se ama, que ama os filhos e quer preservar a união pode ser corroído por diferenças de mentalidade. Uma dica dessa dinâmica nos é dada quando Alice aponta a satisfação do marido em se sentir superior a uma mulher fraca. A situação de inferioridade aparece também quando o pai interfere na relação da mãe com as crianças, tirando sua autoridade e deixando-a em segundo plano. Para Michael, esta é uma situação natural. Ele é o chefe, o orientador da vida da família, o dono do saber; a esposa deve aceitar sua superioridade e seguir seus preceitos. Um outro aspecto menos evidente que aparece é a excessiva objetividade do marido revelada numa frase, quando tenta ajudá-la: "Eu só posso consertar se souber o defeito". Para ele, o alcoolismo da esposa é um defeito a ser consertado - e terá certamente uma solução, desde que se siga a direção certa. E essa direção, certa e única, que desconsidera as complexidades do psiquismo, é ele o único quem conhece. O fato de a mulher não seguir seus preceitos, ou, pior, de fracassar ao seguilos, faz com que ele se sinta desprestigiado, diminuído na sua condição de mentor da família. Teria o amor do casal terminado? Não é o caso. O sentimento de ambos era tão sólido que, ao final, eles se reaproximam, reavivando o afeto que surdamente habitava seus corações. Isso, no entanto, exige um grande esforço. Dele, no sentido de engolir seu orgulho de macho e passar a freqüentar um grupo de parentes de vítimas do alcoolismo. Não é fácil promover modificações em um modo de ser que desde muito cedo se foi formando e terminou por consolidar-se de uma certa maneira. Há uma espécie de terremoto na personalidade. Porém, o desejo de viver o amor pela mulher que escolheu o leva a persistir. Uma outra mentalidade vai se formando, mentalidade na qual cabe a possibilidade de não ser ele o dono do saber, de não ter ele sempre a obrigação de tudo resolver e, além disso, a percepção de que não basta, para enfrentar os problemas, definir um plano objetivo e segui-lo até o fim. Michael começa a perceber que a mente humana é extremamente complexa e que seus caminhos são tortuosos, inesperados e oscilantes. Alice, por sua vez, entende que a incompreensão do marido não vinha da falta de amor, mas de uma educação machista. A partir daí, um recomeço torna-se possível.