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Aos 36, Cibele Dorsa diz adeus à vida

desalentada, ela salta no vazio na esperança de reencontrar o amado

Redação Publicado em 06/04/2011, às 16h26 - Atualizado às 17h25

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Feliz, no auge da carreira, ela vai à temporada CARAS/NEVE, em Bariloche, em 2007 - FOTOS: CAIO GUIMARÃES, CARAS ARGENTINA, CASSIANO DE SOUZA/ CBS IMAGENS, FABIO MIRANDA, LAILSON SANTOS, LUIGGI FRANCESCO, MARCELO NAVARRO, MARTIN GURFEIN, VAGNER CAMPOS, VIVIAN FERNANDEZ
Feliz, no auge da carreira, ela vai à temporada CARAS/NEVE, em Bariloche, em 2007 - FOTOS: CAIO GUIMARÃES, CARAS ARGENTINA, CASSIANO DE SOUZA/ CBS IMAGENS, FABIO MIRANDA, LAILSON SANTOS, LUIGGI FRANCESCO, MARCELO NAVARRO, MARTIN GURFEIN, VAGNER CAMPOS, VIVIAN FERNANDEZ
O que leva uma pessoa a tirar a própria vida? Depressão, desespero, tristeza, perda da pessoa amada? No caso da atriz e escritora Cibele Dorsa foi tudo isso e mais um pouco. Ela, que perdeu o noivo, apresentador do programa Brasil Bites, do canal E! Entertainment, Gilberto Scarpa, há cerca de dois meses, não suportou a dor e partiu em busca de seu grande amor. Gilberto, 27 anos - não parecia, mas era usuário de drogas - se jogou da sacada do apartamento de Cibele, no 7o andar de um prédio no elegante bairro Real Parque, na zona sul de São Paulo, no dia 30 de janeiro. "Meu noivo se suicidou essa noite, com ele morto eu me sinto morta. Prefiro ir com ele, minha força não faz mais sentido. Quero ir encontrá-lo", escreveu ela no Twitter, rede social bastante usada por Cibele para exprimir seus sentimentos e sofrimentos nos últimos tempos. Tomada pela dor, a atriz fez o mesmo, na flor dos seus 36 anos de idade, no último sábado, dia 26, às 2h, aproximadamente. Antes, ela escreveu uma carta de despedida à família, aos amigos mais próximos e aos filhos, Fernando (12), fruto da união com o empresário Fernando Oliva (58), e Viviane (8), do relacionamento com o cavaleiro Álvaro Affonso de Miranda Neto (38), o Doda, a quem inclusive ela acusa de ser um dos responsáveis por sua tristeza. O email, reproduzido na íntegra nesta matéria, incluindo os erros de grafia e de digitação, foi enviado, à 0h36, somente ao editor de CARAS Alberto Santiago (40), que o leu apenas sete horas mais tarde. Segunda pessoa a chegar ao apartamento, Maciel Fama (46), assessor e grande amigo de Cibele, teve acesso ao computador dela e encontrou o email. "Éramos como irmãos de alma. Ela sentiu desesperadamente a morte do Gilberto. Para dor emocional, não existe morfina. Cibele me enganou direitinho nesta última semana. Ela parecia bem e estava cheia de planos de trabalho. Eu tinha de ter percebido que ela estava planejando alguma coisa. Ela sentia muita falta dos filhos, que moram com o Doda na Bélgica", relata Maciel. Além da carta, Cibele postou um vídeo em homenagem ao noivo com fotos do casal e a música Praise You In This Storm (Te Louvo em Meio à Tempestade), da banda gospel Casting Crowns de fundo e escreveu no Twitter a seguinte frase, à 0h44: 'Lmento, eu não consegui suportae a mortenos meus braços mas, lurei...ate onde eu pude.' Indícios dão conta de que ela se atirou da sacada do prédio pouco tempo depois. A grafia desconexa demonstra o desespero que a jovem deveria sentir naquele momento. Todos que conviveram com Cibele a definiam como uma mulher forte e cheia de determinação e personalidade. Em junho de 2008, ela sofreu um grave acidente de carro que quase tirou sua vida. O condutor do veículo, o estudante de Direito Thiago Barbarisi, de 23 anos, morreu na hora, após colidir com uma árvore na avenida Cidade Jardim, na capital paulista. Ela, que estava em uma balada e havia bebido naquela noite, ficou cerca de sete meses sem poder andar, passou por 11 cirurgias, colocou duas hastes, no quadril e na perna direita, quatro pinos no tornozelo direito e três placas de titânio no cotovelo esquerdo e ficou com uma assimetria no olho esquerdo, o que lhe conferia uma impressão de estrabismo. Mesmo sofrendo, Cibele teve forças para lutar e vencer mais esse percalço. Antes de se recuperar e voltar ao teatro com Quarto do Nada, em setembro de 2010, ainda na cama de hospital instalada na sala de seu apartamento, ela começou a escrever 5:00 AM, livro em que relata os momentos durante e após o acidente. O coquetel de lançamento foi três dias antes de Gilberto falecer. Os dois, inclusive, passaram o réveillon em Cartagena, na Colômbia, e faziam planos de se casar em abril. Em outubro passado, dois meses após assumirem publicamente o seu romance, fizeram festa de noivado, em clube noturno paulistano. "Desde o lançamento do livro, Gilberto estava muito estranho. Ele demonstrava muita insegurança em relação a mim. Estava triste, eu perguntava o que era, mas ele não dizia. Sempre me perguntava por que eu não casava com ele logo, se eu não amava o suficiente. Respondia que casaria com ele caso largasse as drogas. Ele tinha um sério problema com cocaína. A partir daquele dia, Gilberto começou a beber muito e dizer coisas estranhas do tipo 'agora você vai conhecer gente interessante, esse livro vai te lançar, vai mudar sua vida'", relatou Cibele, quase um mês após a morte do rapaz. "Quando ele se jogou fiquei descontrolada! Caí no chão, gritei e chorava, porque não acreditava naquilo. Desci correndo pelo elevador e encontrei o Gilberto estirado no chão, com os olhos abertos e ainda com pulsação. Pensei que fosse se salvar. Quando os policiais chegaram, tentaram reanimá-lo, mas me disseram que estava morto. Eu estava anestesiada. Subi, peguei minhas coisas e os documentos do Gilberto, e vesti uma roupa preta. Já me sentia de luto quando fui para a delegacia. Fiquei detida uma noite na delegacia como suspeita. Só fui liberada quando o laudo do IML acusou suicídio. Minha cunhada e meu sogro, Gilberto Balsamo Scarpa, foram me buscar. De lá fomos para o velório em Campinas. Foi íntimo, só chamamos familiares e pessoas próximas. Passei muito mal ali, tive crise de desmaios e por vezes pedi a Deus para ir junto com meu noivo. O que me ajudou foi a mão de minha cunhada e a do meu sogro, que não me 'soltaram' durante velório e enterro", contou ela, que, no entanto, não foi velada pela família do noivo. "Não vou dizer que eu não choro mais. Às vezes me pego vendo fotos nossas e choro muito. Depois do enterro, comecei a tomar remédios fortes para dormir, porque não conseguia mais pegar no sono, não conseguia mais falar. Aos poucos, fui melhorando, diminuindo a dosagem dos remédios", disse ela, que havia se livrado do vício em morfina, adquirido acidentalmente na época em que era obrigada a fazer uso da substância para atenuar as dores por causa do acidente. Na noite de sua morte, como ela mesma relata na carta de adeus, Cibele fez uso de calmantes e de antietanol. A substância, usada para evitar o consumo alcoólico, não tem atividade psicotrópica e inibe uma das enzimas de metabolização do álcool. Consequentemente, causa forte mal estar mesmo diante de doses pequenas de bebida. Antes do acidente que mudou seus conceitos em relação à vida, Cibele amava a vida noturna. Ela, habituée das festas mais badaladas de São Paulo, também dedicava seu tempo a produzir e atuar em peças teatrais e ao programa Homens no Bolso, na rádio Transamérica. Inspirada em seu divertido livro homônimo, a atração semanal dava dicas sobre como conquistar os mais variados tipos masculinos e incluía entrevistas com famosos. Em um programa, ela recebeu o ator Caio Blat (30) para animado papo sobre o assunto. Três anos depois, ao perder o amado para o vício em cocaína, ela sentenciou, amarga: "Eu brincava que colocava os homens no bolso... Quem me colocou no bolso foi a droga." Linda e exuberante, Cibele era comparada à supermodelo norte-americana Cindy Crawford (45), ícone de beleza dos anos 1990, e chegou a posar nua para uma revista masculina, em janeiro de 2008. Além de Doda e Fernando, Cibele namorou o diretor global Marcos Paulo (60), o atual namorado da atriz Antonia Fontenelle (35). Os dois se conheceram durante a temporada CARAS/ NEVE, em Bariloche, na Argentina, em julho de 2007. A relação durou apenas cinco meses. O motivo do fim seria a falta de tempo de se encontrarem, já que ambos viviam em cidades diferentes, ele no Rio; ela, em São Paulo. "Marcos é aquele homem que não se importa em casar várias vezes em busca do verdadeiro amor. Mas não posso agora ser para ele a mulher que sei que sou", disse ela. Em recentes entrevistas, Cibele confessava que Gilberto era o verdadeiro homem de sua vida e que foi ao lado dele que ela descobriu o amor. Ela foi casada por duas vezes. Com Fernando, mantinha relação amigável. Já com Doda, casado desde 2005 com a bilionária Athina Onassis (26), era diferente. "De todos os homens que passaram por mim, quem me fez mais mal foi, sem dúvida alguma, Doda, pai da filha com quem nem mais contato pude ter. Doda parece nunca cansar de me humilhar, ele não se satisfará nunca mesmo. É o pior homem que já conheci, um lobo em pele de cordeiro", escreveu ela que, no auge do desespero, usou uma tesoura - achada por Maciel em cima de sua cama - para romper a tela de proteção da sacada do apartamento. O equipamento fora retirado na ocasião da mudança do filho Fernando para a Europa e recolocado em fevereiro, após a tragédia com Gilberto Scarpa. Cibele, que desde o começo do ano seguia a umbanda, religiãojunção de elementos africanos, indígenas, catolicismo e espiritismo que busca, entre outros objetivos, a evolução do espírito, intensificou sua ida ao "terreiro" após a morte do noivo, que seguia o mesmo credo. Na carta, Cibele diz que planejava se encontrar com Gilberto em Aruanda, lugar no plano espiritual reservado para espíritos trabalhadores da umbanda que já alcançaram uma maior evolução e agora continuam trabalhando como intermediários entre o plano físico e espiritual em nome do bem e da caridade. No momento da morte, ela pôs o DVD de Ghost - Do Outro Lado da Vida, sobre o casal que mantém o amor vivo mesmo após a morte do personagem central, papel de Patrick Swayze (1952 -2009). Usando saia longa branca, regata e, no pescoço, guias, os "cordões de santos" feitos de contas e miçangas dados aos batizados na umbanda, Cibele cortou os pulsos. Nas partes traseiras dos braços, tatuagens recentes: no direito, Camins, caminhos, em catalão. No esquerdo, Aruanda. Caminhos de Aruanda que ela sonhava partilhar com Gilberto. O corpo da atriz e escritora foi velado no Cemitério do Araçá por parentes e amigos, chocados com a tragédia. Os pais, Orlando Dorsa (85) e dona Suad Elizabeth (63) estavam visivelmente abalados. "Acabou tudo, minha filha se foi", dizia Orlando, desnorteado. A única irmã de Cibele, a advogada Carla Dorsa Gemelli (38), passou mal durante o velório. "Hoje é o dia mais triste da minha vida, minha irmã faleceu. Sei que ela está com Jesus, mas a dor e a saudade são muito fortes", desabafou ela, que vive em Fortaleza e recentemente passou 10 dias com Cibele em seu apartamento. O tio materno, o consultor de empresas José Calixto Maria Gaido (65) - responsável por recolocar as telas de proteção nas janelas da casa de Cibele - acompanhou bem os últimos meses de vida da atriz. "Ela era muito impulsiva; quando queria uma coisa, queria mesmo. Sempre fui presente em sua vida, mas recentemente ia visitá-la todos os dias. Virei seu confidente. Ela estava muito fragilizada com a morte do Gilberto. Ela me dizia que o via nos sonhos e que sentia muita falta dele, assim como sentia falta dos filhos também. Minha sobrinha falava que o Gilberto era o homem da vida dela e depois que ele morreu ela falava muito da expectativa de encontrá-lo", revela José Calixto. "Cibele era determinada, amorosa, afetuosa e vivia a vida com intensidade", emenda o tio, consternado. Logo que o noivo morreu, Cibele foi convidada pelo produtor de teatro Tchesco (46) para atuar na peça infantil As Princesas do Castelo Encantado. A atriz, cujo maior sucesso no teatro fora a comédia Lolitas, viu ali a chance de se reerguer e se dedicou aos ensaios durante seis horas diárias, estreando no dia 19 de fevereiro. "Ela estava bem, se recuperando da perda do amado, chegava ao teatro sempre linda, dava risada. Não percebemos nada, inclusive havíamos combinado de fazer um ensaio um pouco antes da peça, no sábado", conta Tchesco. Cibele interpretava a Bela Adormecida e se emocionava com o carinho das crianças após as apresentações no Teatro Bibi Ferreira. "De todas as princesas, ela era a única que sempre chorava. Que falta ela fará. Ela é a nossa eterna Bela Adormecida", lamenta Carmen Sanches (28), que interpreta a Cinderela e que, com Tchesco e todo o elenco foi dar adeus à Cibele. Os atores Zé Alberto Martins (23) e Vinícius Blanco (23), os príncipes, e as atrizes Juliana Cerozi (30), a Rapunzel, Alinne Bello (26), a Branca de Neve, Glaura Lacerda (28), a Fada, além de Thais Guerrieri (21), que substitui as atrizes de folga e assumiu o papel de Cibele, fizeram questão de ir ao velório. Antes de encenarem a peça na tarde do sábado, homenagearam a colega. "Todos aplaudiram de pé e choramos muito. Foi uma grande emoção. Tenho certeza de que ela não gostaria que tirássemos o espetáculo de cartaz. O show não pode parar", ressaltou Tchesco, com lágrimas nos olhos. "Nós íamos fazer outra peça infantil onde ela interpretaria a Barbie. Sempre disse para a Cibele que ela era muito parecida com essa boneca tão amada pelas crianças. Pena que não deu tempo", diz Maciel. "Resolvi trocar o luto por luta. Estar viva e lutando é o meu maior espetáculo", anunciou Cibele no dia 10 de março. "Esqueço de tudo quando estou no palco. É uma forma de suavizar meu luto, sinto uma energia gostosa, a troca do público, que me dá forças", afirmou a atriz. O último desejo de Cibele era descansar junto com Gilberto, em Campinas, mas ao contrário do que pediu na carta, foi sepultada no Cemitério do Araçá. "Ela queria ser enterrada no mesmo jazigo que Gilberto, no interior de SP, mas eles não eram casados e ficaria mais complicado pedir isso à família dele. Pedi perdão para ela por não ter atendido seu último desejo", confessa Maciel, pesaroso, antes de lhe fazer a última homenagem, no momento do sepultamento. Após José Calixto convidar todos a rezar o Pai Nosso e a Ave Maria para que a sobrinha fosse enterrada com "boas vibrações", Maciel pediu uma salva de palmas para a amiga. "Fim do primeiro ato. Da Sibele com S, a grafia de batismo, a gente se despede com lágrimas. Da Cibele com C, o nome artístico, a gente se despede com aplausos", disse ele, com voz embargada e seguido de aplausos e muitas lágrimas. "Senhor, receba minha irmã de braços abertos. Cuide dela e a receba em seus braços", bradou Carla.