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Arquivo / Joias e Acessório

JOIAS & ACESSÓRIOS: A senhora dos anéis

Designer de joias da Dior há mais de uma década, Victoire de Castellane mudou a alta-joalheria ao dar vida ao seu universo lúdico e ficcional

Redação Publicado em 20/05/2011, às 18h39 - Atualizado em 24/05/2011, às 21h25

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TRADIÇÃO: A designer é herdeira de uma das mais tradicionais famílias da Europa, a Hennessy, e seu tio foi assistente do estilista Karl Lagerfeld - Divulgação
TRADIÇÃO: A designer é herdeira de uma das mais tradicionais famílias da Europa, a Hennessy, e seu tio foi assistente do estilista Karl Lagerfeld - Divulgação
No começo do mês de março de 2011, a francesa Victoire de Castellane, a aclamada e excêntrica designer de altajoalheria da Dior, ganhou uma exposição na Gagosian Gallery, em Paris. A mostra contava com dez joias inspiradas, entre outras coisas, em cocaína e crack. Mas Victoire nem fuma cigarro. Já disse, inclusive, que nunca bebeu ou usou drogas na vida. Sua maior loucura é ter acesso a um universo paralelo onde tudo é possível. "Tive uma infância feliz, porém muito solitária. Consequentemente, me refugiei em um mundo imaginário onde eu podia inventar todos os tipos de histórias povoadas com os mais extraordinários personagens". Está aí a explicação para suas peças exageradas e que revelam uma incrível técnica. Victoire sempre foi "diferente". Nascida em uma família aristocrática, seus pais se separaram quando ela tinha apenas três anos. Em boa parte, a menina foi criada pela avó materna, Sylvia Hennessy, fanática por joias e herdeira da mítica destilaria de cognac Hennessy (hoje o "H" do conglomerado de luxo LVMH), e pelo tio Gilles Dufour, designer e braço direito de Karl Lagerfeld por muitos anos na Chanel. "Minha avó era uma mulher elegante e sempre usava peças incríveis que combinavam com cada uma de suas roupas. Quando eu era criança, olhava para ela com grande admiração", relembra. E se a avó foi responsável por despertar a paixão pela alta-joalheria, foi graças a Dufour que ela conheceu Lagerfeld e botou os pés dentro da tradicional maison comandada por ele. Mas, definitivamente, não foi isso que a manteve no cargo de designer de acessórios da Chanel por 14 anos e a levou, em 1998, para a Dior, onde assumiu o posto de diretora criativa do departamento de joias e continua até hoje. "Aprendi minha profissão quase que por acaso. Ganhei minha experiência ao longo dos anos", diz Victoire. Com cinco anos de idade, ela transformou um bracelete em brinco. Aos 12, derreteu um medalhão da vovó Sylvia e fez seu primeiro anel. De lá para cá, sua técnica apenas se aperfeiçoou. Desde que assumiu o cargo de diretora criativa de joias da Dior, em 1998, ela revolucionou a alta-joalheria. Em meio ao conservadorismo característico do setor, suas peças são lúdicas, cheias de volumes e cores vibrantes, com tamanhos exagerados para mais ou para menos e repletas de formas orgânicas, como animais e plantas. "Isso vem, principalmente, dos meus gostos pessoais. E joias bem femininas contam uma história", explica. Aliás, contar histórias é sua obsessão. Todas as suas coleções têm um lugar e um enredo. "A partir de tudo o que eu tenho sido capaz de armazenar na minha 'coqueteleira mental', imagino um esboço, uma linha principal", conta. "Depois, penso nos personagens que serão minhas futuras joias! Assim, aos pouquinhos, cada peça encontra seu lugar, como em uma história real!". Arte, música, revistas, decoração, filmes, mulheres nas ruas, contos de fada, livros e a natureza a inspiram. "Tudo o que tenha a ver com feminilidade em geral. Absolutamente tudo", diz. E apesar de adorar moda, e inspirar-se nela também, o trabalho de Victoire é independente da alta-costura. Suas coleções são feitas de acordo com seus gostos, caprichos e fantasias. Todos os dias, Victoire vai ao seu ateliê no prédio principal da Dior, em Paris, e encontra sua equipe. Discute os projetos, desenha e procura pedras para as coleções. Em alguns casos, ela primeiro desenha a peça e depois vai atrás da melhor gema para embelezá-la. Mas para as joias da coleção Coffret de Victoire (Baú de Victoire), por exemplo, foi feito o contrário. "Preferi começar com uma pedra pela qual me apaixonei", diz. E esse processo todo, da criação, passando pela manufatura, até chegar ao consumidor final, pode demorar de três meses a dois anos. A espera vale a pena para os aficionados por joias. As criações de Victoire são únicas e ousadas. Imagine, por exemplo, um colar de estrela do mar com três mil safiras amarelas e laranjas. E quem pode esperar que ouro, diamantes, turmalinas Paraíba e safiras coloridas possam se transformar num anel fantástico chamado Carnivora Devorus? Um anel em forma de planta carnívora com uma joaninha sendo devorada. "Para mim, uma joia deve apaixonar a pessoa que vai usá-la logo de cara, à primeira vista. Pode ser um amuleto, um símbolo de amor ou um presente para si mesmo, não importa, contanto que ela tenha um valor sentimental! Não há nada mais triste do que comprar uma joia como um investimento!", afirma Victoire. Assim como a altacostura, a alta-joalheria também tem tudo a ver com emoção, dedicação, expertise e qualidade. De fato, as duas coisas são bem parecidas. "Ambas são, necessariamente, feitas à mão, nos melhores ateliês e pelos mais experientes artesãos-joalheiros", acrescenta. "Isso, na minha opinião, é essencial". Duas vezes separada e mãe de quatro crianças, Victoire se enxerga como uma criatura de hábitos. Acorda cedo, gosta de tirar o máximo da vida e curtir as pessoas que ama. Em casa, tenta fazer o seu melhor, mas, talvez até por um trauma de infância, diz que "a coisa mais importante é me comunicar bem com os meus filhos". Sua roupa preferida são os vestidos de Azzedine Alaïa que, segundo ela, a fazem se sentir superfeminina sem muito esforço. "São o look perfeito", garante. E para completá-lo, um anel, a joia favorita. "Ao contrário de um par de brincos ou de um colar, ele pode ser admirado pela própria mulher que o está usando". Não é à toa que Victoire de Castellane ganhou o apelido de "senhora dos anéis". "Se isso for verdade, estou lisonjeada", brinca. Fã da Mulher Maravilha e da Vampirella, ela diz que todas as mulheres são heroínas. Com sua franja indefectível e seus sapatos plataforma, ela própria é uma, ao menos para quem ama joias.