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Mulher atual exige compreensão de sua sensibilidade feminina

por <b>Nahman Armony</b>* Publicado em 17/02/2010, às 02h11 - Atualizado às 02h11

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Mulher atual exige compreensão de sua sensibilidade feminina
Mulher atual exige compreensão de sua sensibilidade feminina
Imagine um inglês do século XIX fazendo a corte a uma dama: nada de baboseiras românticas como luares, flores, pequenos mimos, palavras doces. Não! Tudo muito objetivo. No meio de uma conversa sobre algum assunto concreto, ele, num assomo de coragem, diz: "Quer casar comigo?". Diante da reação de falsa surpresa da dama, gagueja um "eu te amo". Ela, que já esperava com certa impaciência o episódio, num desmaio, responde: "Oh, sim". Consumado o ritual, a dama passa a pertencer ao cavalheiro como um troféu, uma serviçal que deverá administrar a sua casa e atender aos seus desejos. É claro que esta é a atitude subjetiva do cavalheiro. A dama tem outros planos e recursos para pô-los em prática. Mas o que nos interessa aqui é a mentalidade dele. Quem viu o musical My Fair Lady, baseado na peça Pigmaleão, de George Bernard Shaw (1856-1950), se lembra do personagem Mr. Higgins, ótimo exemplo do que falamos aqui. Ele é o extremo do homem masculino, objetivo, direto, lacônico, definitivo. Ao final do filme, uma frase de comando ("Eliza, traga-me os chinelos") dá o tom da relação. Características semelhantes tinha o namorado de uma cliente minha. Quando ela reclamava uma manifestação de afeto, ele respondia: "Mas eu já não disse que te amo? Para que repetir algo que já está estabelecido, que já sabemos?" Ele não se dava conta da insegurança que por vezes a acometia, nem de sua necessidade de reafirmação do amor, da importância de se sentir cortejada, do que isso significava para a sustentação de um modo de viver estética e poeticamente a vida, próprio do feminino - os olhos da mulher embelezam a vida que os olhos do homem esquematizam. Evidentemente, a situação vem mudando. Já não estamos na época vitoriana, quando Mr. Higgins não precisava se importar com os sentimentos de Eliza Doolittle, que, embora pobre, inculta, com modos grosseiros, guardava uma sensibilidade feminina. Naquela época, a dependência da mulher era determinada institucionalmente e o homem não precisava se preocupar em entendê-la para mantê-la atrelada a si. Hoje a situação é outra. Muitas mulheres exigem ser compreendidas em sua sensibilidade feminina para permanecer ao lado do parceiro. Necessitam de atenção e elogios, precisam ser percebidas em seus pormenores, em suas variações, em sua potência. No filme Nova York, Eu Te Amo (2008), há um episódio em que uma mulher sai de um restaurante para fumar, encontra um homem na calçada e reclama que se sente invisível para o marido, pois este não percebe os recursos de sedução que ela emprega para chamar a sua atenção. Na cena seguinte vemos o mesmo homem, com a mesma mulher, na mesa do restaurante - ele é o marido! -, agora prestando atenção nas vibrações sensuais da esposa, entrando no clima erótico proposto por ela. A mulher vitoriana, transformada em objeto conquistado e possuído, ficava invisível na sua condição feminina, o que hoje é cada vez menos admitido. E todos ganham. O homem, na necessidade de compreender o universo da mulher, acaba por adquirir parte da riqueza do feminino, ficando mais ligado no sensível, atento às minudências estéticas do mundo. Há maior equilíbrio na união, ele desenvolvendo o feminino e ela o masculino.