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Ano novo traz a esperança. Mas não entrega a suprema felicidade

por Paulo Sternick* Publicado em 28/12/2010, às 13h43

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Ano novo traz a esperança. Mas não entrega a suprema felicidade
Ano novo traz a esperança. Mas não entrega a suprema felicidade
Em certo momento do filme A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor (70), um personagem tece, do alto de sua avançada idade, sábio comentário: "O sábado, meu amigo, é uma ilusão". É dito verdadeiro, capaz de servir de contraponto para o excesso de expectativas que costumamos depositar em certos momentos e situações. O fim de semana é um desses receptáculos de ilusões, mas não o único. A chegada de um novo ano é igualmente marcada por uma dose excessiva de esperança, em especial para aqueles que estão à procura de um amor. Em função do simbolismo de renascimento da vida que atribuímos à mudança de ano, o Réveillon acaba se assemelhando a uma alucinação, um benigno delírio coletivo. Não se trata apenas de fantasia, é preciso que se diga. O futuro, de fato, sempre traz uma promessa de evolução, de desejos a se cumprir e de projetos a se conquistar. Afinal, o tempo é o senhor das realizações que demandam espera ou amadurecimento - e entre elas se encontra o amor que se quer manter e aprimorar, ou ao qual ainda se aspira. Mas é prudente prestar atenção às expectativas messiânicas, ilusórias, de que o novo ano trará a mágica realização de todos os desejos: a suprema felicidade - e, no extremo da fantasia, a cura de todas as nossas carências e frustrações amorosas, de nossos males e inquietações. Quem já possui idade para ter experimentando a passagem de alguns anos novos sabe que as coisas não funcionam dessa maneira! Claro que não faz mal a ninguém cultivar a esperança de que desta vez será diferente. Necessitamos mesmo de certa dose de idealização. Ela nos ajuda a ter força para seguir adiante. Para muitos, 2011 representa a chance de entrar de novo em campo, desta vez com maior possibilidade de vitória. Nada de errado com esse otimismo. É melhor mantê-lo do que entrar em 2011 pensando, entre outras coisas ruins, que uma nova relação amorosa é impossível, que a velha relação desgastada não melhorará nunca ou mesmo que será impossível romper de vez uma união que já provou estar acabada, enfim, que a vida se repetirá sempre igual. Mas é fundamental que a esperança não se constitua em porta-voz da passividade, nem substitua a ação efetiva em busca dos objetivos sonhados. Sim, porque eles exigem, mais do que sorte, trabalho interno, transformação e crescimento pessoal. Ninguém escapa de uma realidade: a de que a suprema felicidade não existe - pelo menos não de forma estável e duradoura. Nenhum novo ano a trará, nenhum ano velho enterrará eventuais infelicidades. Costumo dizer que a felicidade também é a capacidade de suportar - com serenidade e resignação - as adversidades e frustrações. Estas são uma sombra inevitável em qualquer relacionamento, sempre presentes, intercaladas entre as satisfações e alegrias. Os casais que se mantêm juntos o fazem porque têm a sabedoria de atravessar os impasses sem alimentar a absurda culpa por não estarem vivendo no paraíso da suprema felicidade - isso mesmo: as pessoas se deprimem por não alcançar objetivos que elas não percebem serem impossíveis. Mas tais reflexões não devem ofuscar a comemoração de Ano-Novo. Ao contrário, devem ampliá-las, de modo que se tornem um promissor misto de fantasia e lucidez, de esperança e disposição para a realidade. Que venha a sorte, mas não deixemos de ajudá-la.