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Caprichar no visual é bom para a carreira, mas pode gerar ciúme

por Paulo Sternick* Publicado em 17/05/2010, às 15h12 - Atualizado às 15h12

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Caprichar no visual é bom para a carreira, mas pode gerar ciúme
Caprichar no visual é bom para a carreira, mas pode gerar ciúme
Homens e mulheres saem cada vez mais bem vestidos e cheirosos para o trabalho, às vezes até com um ar de quem vai para a balada ou um encontro importante. Encantam a cara-metade, mas, ao mesmo tempo, deixam no ar, além do atraente perfume, um rastro de suspeita e ciúme: por que saem para a labuta diária assim tão emperiquitados? Dúvidas podem surgir - será que estão de olho em alguém, iniciando uma infiel paquera, ou desejando provocar alguma sedução? Tais atitudes podem realmente ser um sinal de que a relação se mostra insatisfatória, levando o outro a investir em novas possibilidades amorosas. Mas nem sempre. A vaidade existe em ambos os sexos, o narcisismo lateja e as pessoas adoram ser admiradas. Não raro, sentem necessidade de provocar, com o próprio charme, a inveja dos colegas - e também o ciúme do parceiro! A preocupação em sair elegante para trabalhar, porém, ganhou nova compreensão recentemente, com a publicação de um estudo da sociólogia inglesa Catherine Hakim, da London School of Economics and Political Science, a mais prestigiosa escola britânica de economia e ciência política. Catherine analisou o que chamou de capital erótico, segundo ela um recurso pessoal que, ao lado de outras capacidades, ajuda, e muito, um profissional no mercado de trabalho. Faz sentido. As pessoas charmosas são mesmo mais agradáveis de se conviver - o que não significa que devam concordar com a exploração que se faz disso na cultura pósmoderna, nem aderir ao uso pouco ético e criterioso da sensualidade. A realidade, porém, é que são mais bem aceitas. A socióloga chegou a medir a vantagem que esse pessoal leva sobre os demais: homens e mulheres dotados de um alto escore de capital erótico tendem a ganhar 15% a mais do que a média, são mais notados e persuasivos. Claro que beleza apenas não põe mesa: é necessário vivacidade, elegância, charme, bom senso na apresentação e outros dotes de personalidade, segundo constatou a pesquisa. Na relação a dois, cientes disso, os parceiros, em vez de ter ciúme, podem se estimular reciprocamente a ser atraentes, sugerindo roupas, regimes, cortes de cabelo ou ginástica um para o outro, aceitando, enfim, as demandas da sociedade liberal, moderna e estética dos dias atuais. Precisam, no final das contas, aprender a separar o joio do trigo, ou a justificada ambição profissional da sedução, saber diferenciar as coisas. A Psicanálise nos ensinou que, no início da vida, nosso eu é antes de tudo corporal, mas ela foi modesta: para muita gente (e para a cultura atual), a personalidade foi, continua sendo e será acima de tudo movida pela aparência. Em muitas pessoas, o eu é parasita do corpo, pelo menos enquanto ele é jovem e bonito. Isso assusta gente menos fútil - e mais ciumenta. Ainda mais na atualidade. Afinal, hoje nos relacionamos mais com signos e simulacros do que com pessoas e coisas reais. Há um reforço desse narcisismo individualista, pois quase tudo sofre um processo de estetização: carros, lojas, casas, roupas, pessoas - tudo tem de ser muito bonito para obter valor. A beleza surge como critério de superioridade, o que - é bom que se diga - não passa de ilusão.