Adoro! A voz off do extra-sensível Maud Molyneux (amigo que - hélas!-não vejo há muitomuito tempo - dizia "je suis dans un miroir, je suis la forme qui change" (eu estou dentro de um espelho, eu sou a forma que se transforma...). Daí, o show começava. O que eu conto para vocês dessa coleção "tudo de bom", um mix ma-ra-vi-lhoso de poesia, ironia, imaginação e senso de humor?? Aiaiai, o rosto de Jean-Paul não é mesmo mais o do l'enfant terrible que sacudia Paris nos anos 80, com suas irreverências fashion, mas... que bom!, a cabeça continua tinindo, fervendo, e jogando nas passarelas da vida imagens que acordam nosso cotidiano repetitivo, aborrecido, entorpecido. Olha só a cartola feita de cabelos que Gaultier inventou! Olha só esse vestido longo de organza de seda pura (cor de violeta? cor de bispo? ametista?), sexy e ao mesmo tempo surrealista, imitando o desenho de um esqueleto humano. Olha só que loucura o casaco emplumado, com as penas negras-azuis de um galo de raça?? Gaultier não é apenas estilista, é um ilusionista, é um mágico, um contador de sonhos, um encantador de serpentes. Pena, pena mesmo, que meu espaço é pouco e não posso mostrar tudotudo para você. Tenho que contar então: tem uma jaqueta incrível, cuja gola é uma espécie de cobra reluzente (absolutamente couture), transformada (ui!) em raposa dourada. Tem um fourreau de veludo negro que deixa uma perna completamente "oferecida", apenas velada por uma mousseline etérea. Os decotes-now acontecem quase sempre nas costas, e Gaultier trabalha como nobody essa nudez estratégica. O que mais? Darling, um body de jacquard tipo obra de arte, cujo desenho (com inserções de galuchat) mistura mil cores e mil brilhos. Ma-jes-to-so. O desfile acabou com a noiva (ainda??) que chegou equilibrando um enorme candelabro na cabeça. Não é por nada, não, mas me lembrou muitomuito um lustre que Carmem Miranda usava num dos seus looks mais que pirantes.
FOTOS: MARCIO MADEIRA
