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A expressão â¬Spé na jaca⬠derivou de jaca, do malaio chakka, fruto...

...da jaqueira, ou de jacá, do tupi ayaâ¬"ka, cesto feito de taquara, e quer dizer passar dos limites. Já â¬Slavagem de dinheiro⬠veio do latim lavare, limpar, e designa formas de tornar legais quantias obtidas ilegalmente.

Deonísio da Silva Publicado em 14/12/2006, às 11h58

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Começar: do latim vulgar cominitiare (lê-se cominiciar e por isso deu, no português, começar), iniciar. Nem sempre é fácil começar a fazer alguma coisa. Ao iniciar sua célebre Longa Marcha, o revolucionário comunista chinês Mao Tsé-tung (1893-1976) proferiu uma frase que se tornaria célebre: "Toda longa marcha começa com um pequeno passo". Neil Armstrong, primeiro homem ao pisar na Lua, disse: "Este é um pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a humanidade". São famosos certos começos de romances, como os que transcrevemos a seguir. De Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616): "Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor. (...) Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinqüenta anos. Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigo da caça. Querem dizer que tinha o sobrenome de Quijada ou Quesada (que nisto discrepam algum tanto os autores que tratam da matéria), ainda que por conjecturas verossímeis se deixa entender que se chamava Quijana. Isto porém pouco faz para a nossa história; basta que, no que tivermos de contar, não nos desviemos da verdade nem um til". De O Processo, do tcheco Franz Kafka (1884-1924): "Alguém devia ter contado mentiras a respeito de Joseph K., pois, não tendo feito nada de condenável, uma bela manhã foi preso". De Ana Karenina, do russo Leon Tolstoi (1828- 1910): "Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz a seu modo". De Lolita, do norte-americano de origem russa Vladimir Nabokov (1899-1977): "Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne". De O Perfume, do alemão Patrick Süskind (57): "No século XVIII viveu na França um homem que pertenceu à galeria das mais geniais e detestáveis figuras daquele século nada pobre em figuras geniais e detestáveis". Gulag: do russo Gulag, sigla de Glavnoie Upravlenie Laguerei, palavras russas que designavam na antiga União Soviética um sistema penal denominado Direção Geral dos Campos de Trabalho Corretivo, eufemismo para campos de concentração, onde os condenados cumpriam pena de trabalhos forçados. Como era um sistema de campos e não apenas um campo, o escritor Alexander Soljenitsin (88) concebeu essa ignomínia como um arquipélago, intitulando Arquipélago Gulag sua obra mais conhecida. Nas quase 2 mil páginas, o autor narra um cotidiano de sofrimentos inauditos, baseado em fatos que viveu ou presenciou quando cumpria pena num desses locais. O livro, escrito entre 1962 e 1973, foi publicado logo no Ocidente e circulou clandestinamente na então União Soviética até ser liberado, em 1989. Gulag e intelligentsia (intelectualidade) aindanão foram aportuguesadas, ao contrário de outras palavras russas, como tróica (troika, trio, em russo), para designar tanto animais puxando uma carroça quanto maiorais dirigindo o Estado. Os portugueses escrevem kulak, assim como Estaline e não Stalin, quando se referem ao ditador da União Soviética por quase trinta anos, Iosif Vissarionovitch Djugatchvilli, conhecido como Joseph Stalin (1878- 1953), sucessor de Vladimir Ilitch Ulianov, o Lenin (1870-1924). Jaca: designando fruta, veio do malaio chakka, fruto da jaqueira, arredondado, grande e pesado. A casca é composta de gomos amarelados, viscosos e doces, dentro dos quais estão as sementes, grandes e comestíveis depois de assadas. Com acento agudo no a final (jacá), designa cesta e veio do tupi aya'ka, cesto feito de taquara. Quando os cariocas criaram a gíria "enfiar o pé na jaca", designando cometer gafe ou exagerar, ultrapassar os limites, podem ter confundido jacá com jaca, segundo explica o músico e pesquisador carioca Henrique Cazes (57) no livro Suíte Gargalhadas (José Olympio Editora): ''A origem dessa denominação do pileque remonta aos tempos em que os bares tinham, na parte da frente, cestos com frutas e legumes. Era o modelo botequim-quitanda. E era nos cestos de palha, chamados jacás, que ficavam os artigos à venda. Quando alguém bebia demais, ao sair, enfiava o pé no jacá". É possível, mas, no meio rural, enfiar o pé na jaca (fruta) e não no jacá (cesto) também equivale a coisa indevida, pois, trabalhando descalço, tal evento certamente resulta em gafe e sujeira. Lavagem: de lavar, do latim lavare, lavar, limpar, purificar. Designa também o que se oferece a mais quando da venda de líquidos, como a cachaça, deixando transbordar o vasilhame que serve de medida. Vem daí o sentido metafórico de vitória fácil, como que dada de presente pelo adversário. Já o ato de lavar roupa serviu para outra metáfora, a de lavar dinheiro, ou seja, tornar quantias obtidas em atividades ilícitas limpas, justificadas pela contabilidade. A expressão surgiu quando os Estados Unidos viviam sob a Lei Seca, que proibia o comércio de bebidas alcoólicas. A Máfia, na época, passou a registrar o dinheiro obtido com a venda clandestina de bebidas como entradas em empresas de fachada, usualmente lavanderias.