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Etimologia

Por Deonísio da Silva Publicado em 28/06/2011, às 18h21

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Banalidade: de banal, do francês banal, mais o sufixo idade, comum em palavras derivadas de outras, mas com influência do francês banalité. Designou originalmente pagamento feito pelos servos ao senhor feudal para usarem seus animais e ferramentas nas atividades agropecuárias. O imposto era pequeno e isso fez com que adquirisse o sentido de coisa trivial, sem muita importância. O étimo remoto é o franco ban, proclamação, presente também no inglês banner, peça publicitária em forma de bandeira, de plástico, tecido, papel ou eletrônica, exposta em espaços públicos e também nas telas dos computadores, principalmente na Internet.

Clóvis: do modo errado de um locutor da então poderosa Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, pronunciar o inglês clown, palhaço, anunciando o palhaço de rua, figura que no carnaval carioca, vestindo um macacão colorido, desfila batendo no chão uma bola presa a um cordel. Dá nome a uma localidade no Novo México, Estados Unidos, que teve intensa ligação com o rock e designa também uma rocha muito peculiar no planeta Marte. Como nome de pessoa, tornou-se comum depois de Clóvis I (466-511), rei merovíngio. Ele uniu todos os povos bárbaros que integravam os francos.

Inaugurar: do latim inaugurare, mais propriamente in augurare, celebrar os ritos augurais, tarefa dos áugures, sacerdotes que entre os antigos romanos adivinhavam os desígnios dos deuses, invocando-lhes a proteção para o que estavam começando. Eles previam o futuro e adivinhavam os presságios por meio do canto das aves, do exame de suas entranhas ou ouvindo o vento. Nenhum edifício público era aberto aos moradores da cidade sem que antes os sacerdotes buscassem a aprovação dos deuses. Consolidou-se com  o significado de estrear, abrir ao público, começar, porém não mais exclusivamente aplicado a um templo, edifício, monumento, também a casas, placas comemorativas, roupas, ações.

Redomão: do mesmo étimo de domar, do latim domare, domesticar, amansar. Designa cavalo xucro, cuja doma ainda não se completou. Xucro, do quíchua chucru, duro, pelo espanhol platense chúcaro, é o cavalo selvagem ou que ainda não foi montado. É palavra comum no cancioneiro do Rio Grande do Sul e está nestes versos do poeta e compositor popular gaúcho João Sampaio (52): “Herdei do meu bisavô/ O entono de redomão/ Cada vez que eu abro o peito/ E canto um canto do meu chão/ Fico mais igual a ele/ E passo a mesma impressão/ Quem me escuta também pensa/ Que eu tenho o mundo nas mãos”. Sô: da abreviação de sinhô, pronúncia sem o mesmo prestígio de senhor, da qual é variante. No português de Minas Gerais, por influência de engenheiros ingleses que queriam entender a criatividade dos brasileiros na construção das ferrovias, sô tem como origem o inglês so (assim), advérbio de modo, presente na pergunta constantemente feita por eles: “Why, so?” (Por que, assim?).

Um-sete-um: do Artigo 171 do Código Penal, que trata do estelionato. Veio a designar o indivíduo trapaceiro, vigarista, trambiqueiro, que mente ou engana outros com o objetivo de levar vantagem, de explorá-los, ou que não cumpre o que diz ou promete. Por extensão, refere também o gabola, que gosta de contar vantagem, aparentar superioridade, pelo exagero dos feitos que relata, que incluem a exaltação de si mesmo. Um famoso um-sete-um, que se excedeu nas vilanias em livro que ele mesmo escreveu, contando como se fez passar até por dono de empresa aérea, foi interpretado no cinema, no filme VIPs, por Wagner Moura (35).

Vilão: do latim vulgar villanus, que mora na vila ou que vive apenas em casa de campo, afastado da urbe. Por isso, não tem hábitos urbanos, indicadores de civilidade, substantivo ligado a civitas, cidade. É rude, rústico. Por preconceito que depois se consolidou, veio a designar também o covarde, por semelhança com vilis, vil, desprezível, de baixo preço. Em novelas, peças e filmes, o vilão trai ou prejudica o herói, fazendo coisas reprováveis. Na Idade Média, o vilão, que aparece traduzido também como aldeão, era o camponês que trabalhava nas terras do senhor feudal, sem morar ali.

* Deonísio da Silva (62), escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa). Seus livros já foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional e Casa de las Américas. E-mail: deonisio@terra.com.br