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Etimologia

por Deonísio da Silva* Publicado em 22/06/2011, às 15h04 - Atualizado às 16h34

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Seções fixas - Etimologia
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Alto-mar: do latim altus e mare, o primeiro com o significado de alto, mas também de grande, e o segundo com o de mar, porção de água salgada nas proximidades da terra habitada, em oposição a oceanus, oceano, do grego Okeanós, um dos 12 titãs, filho de Urano e Gaia, que ocupa cerca de 71% da área da Terra. O mar tem sentido mais restrito — e são muitos os mares, como o Mediterrâneo, o Mar do Norte e o Mar Negro — e o oceano é frequentemente divido apenas em cinco grandes unidades: o Atlântico, o Pacífico, o Índico, o Glacial Ártico e o Glacial Antártico. A expressão alto-mar, que mesmo depois do Acordo Ortográfico não perdeu o hífen, designa qualquer ponto afastado da costa de onde não se avista mais terra e também o limite que está além das águas territoriais de qualquer país, sendo ali livre a navegação.

Caixa de música: do latim capsa e musica, respectivamente, designando dispositivo ao qual se dá corda para ouvir determinada música. Ainda existente no mercado, antecedeu em século a juke-box, do inglês juke, dança, e box, caixa, máquina acionada por moeda ou ficha, com toca-discos ou leitor de cedês: o usuário escolhe a faixa com a música desejada. Recebeu este nome porque quando surgiu rodava músicas arrebatadoras, baseadas num ritmo de dança executada de modo animado, quase aos saltos.

Espectro: do latim espectrum, visão, fantasma, de specere, olhar, ambas as palavras radicadas na raiz indo-europeia spek, presente também em espelho. Aparece em O Espectro que nos Ronda, do sociólogo e professor baiano Muniz Sodré (69): “Um espectro ronda a sociedade e o Poder, não certamente o do comunismo — como anunciara Marx em seu célebre Manifesto, essa obra-prima de analítica social conjugada em jornalismo —, mas o espectro do ‘ex-comunismo’. É como se os representantes ou as lideranças das velhas facções da esquerda tivessem chegado ao Poder para descobrir que não é exatamente o que pensavam ou então que, para exercê-lo, tivessem de esvaziar a identidade do que foram: agora são ex-militantes, ex-trotskistas, ex-socialistas etc. A identidade vazia é nada menos do que espectral”.

Hobby: palavra inglesa, entrou para nossa língua como neologismo sem ser aportuguesada. Designou originalmente um cavalinho de brinquedo. Esse cavalinho não servia ao trabalho, só ao lazer. Entre as neolatinas, o português e o italiano mantiveram hobby, mas o espanhol traduziu para afición e o francês para passe-temps. Consolidou-se no português para designar o passatempo, a atividade de recreio ou de lazer feita nas horas vagas, sem obrigação, por gosto, de que são exemplos a jardinagem, a equitação, o cuidado com animais.

Preço: do latim pretium (no latim o “t” tem som de “s” neste caso e por isso isso o “c” recebe cedilha em português), valor pago por mercadoria, bem ou serviço: preço da casa, da roupa, do carro, do ingresso. Usa-se também no sentido metafórico: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. O jornalista baiano Sebastião Nery (79) transcreve em seu livro A Nuvem: O que Ficou do que Passou — 50 Anos de História do Brasil uma crônica famosa, de sua autoria, intitulada O Preço da Verdade, reiterando a liberdade: “Tudo na verdade tem seu preço: a rosa de jardim, o beijo da amada, a venalidade dos crápulas e a verdade. Nem um instante sequer fomos ingênuos. Sabíamos precisamente quanto íamos pagar pela independência, pela coragem, pela verdade do Jornal da Semana. Começamos a pagar. Ótimo.”

Soneira: de sono, do latim somnus, palavra vizinha a somnium, sono, que no espanhol sueño acabou por designar tanto o sono como o sonho, que em latim é somnium. A soneira é um cansaço que acomete a pessoa que dorme pouco ou que está muito cansada. Seu sinônimo mais elegante é sonolência. O cronista pernambucano Antonio Maria (1921-1964) utiliza a palavra na crônica Soneira e Preguiça: “Sinto uma soneira, uma preguiça! Por que será que não tenho coragem de enriquecer? Quase todos os meus colegas de imprensa enriqueceram, acordando cedo, indo à cidade e vendendo suas palavrinhas, a um conto e quinhentos. O jornalismo, bem administrado, é tão bom negócio quanto a especulação imobiliária e o jogo da bolsa. Querendo, a gente vende bem aquilo que publica e, melhor ainda, aquilo que não publica”.

* Deonísio da Silva (62), escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa). Seus livros já foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional e Casa de las Américas. E-mail: deonisio@terra.com.br