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Ninguém tem o direito de envolver parceiro ou filho em ação antiética

por Alberto Lima* Publicado em 26/04/2011, às 12h08

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Ninguém tem o direito de envolver parceiro ou filho em ação antiética
Ninguém tem o direito de envolver parceiro ou filho em ação antiética
As relações conjugais, assim como as familiares, não dispensam cuidados éticos só porque, supostamente, nelas impera a intimidade. Cada pessoa preserva, ou deveria preservar, aos olhos das demais, a condição de "outro". O marido não é um apêndice da esposa; a esposa não é uma extensão do parceiro; filhos não podem ser depositários de conteúdos dos pais, nem tratados como funções parentais terceirizadas e assim por diante. Longe de representar mero expediente protocolar, o "bom dia" que se deseja ao parceiro ou à parceira a cada manhã é emblemático da consciência de que aquela pessoa é um "outro", ou seja, é distinta do "eu", tem sua identidade, é inteira (não é metade da maçã ou da laranja de ninguém, nem tampa de panela ou coisa parecida), e não prescinde de ser reconhecida como tal. A falta de um "bom dia" pode indicar distorções na percepção do faltante, em sua visão do mundo e das pessoas, ou denunciar o lugar em que o "outro" é colocado em sua vida. O regime civil escolhido pelo casal (comunhão parcial ou universal de bens ou outros) determina em grande parte as responsabilidades, os direitos e os deveres recíprocos, além de nortear as bases em que as ações e decisões conjuntas deverão se apoiar. É uma escolha que abrange o âmbito social da união. Para além das disposições jurídicas e civis, porém, há o âmbito psicológico, ou seja, a consciência das implicações de uma vida conjunta no plano interpessoal, relacional, afetivo. E é exatamente nesse âmbito que se afere a presença ou a ausência da ética relacional na parceria amorosa. Por exemplo: a compra ou a venda de um bem precisam ser acordadas pelo casal; as razões e as finalidades desses expedientes devem ser explicitadas e compreendidas para que as decisões sejam confortáveis para os envolvidos. "Assine aí" é um comando que não pode acontecer entre pessoas que vivem juntas. No trabalho clínico, inúmeras vezes acompanhei e procurei compreender o significado da "dor de ser filho", ou filha, em homens e mulheres adultos. Conheci situações em que, após a morte do pai, filhos descobriram que tinham sido "laranjas" dele em negócios escusos, à revelia e desde muito jovens, quando eram inexperientes e ingenuamente confiantes na figura paterna. Igualmente grave, a decisão de ter um filho para "salvar" o casamento também é algo que coloca esse futuro filho ou filha num enrosco ético com conseqüências danosas, podendo levar a feridas psíquicas muitas vezes irreparáveis. Não se pode "dispor" de uma pessoa para atender a necessidades pessoais, narcísicas, egocêntricas. Quem recorre a esses métodos, porém, crê na legitimidade do que faz. Costumam ser pessoas formadas e criadas em ambientes não éticos. Se querem ser "filhos exemplares", precisam ser não-éticos. Esse tipo de posicionamento costuma ser crônico e irrefletido. E não se pode esperar autocrítica da parte de alguém incapaz de refletir. A solução da situação fica, então, para a pessoa que é a "reserva ética" do contexto conjugal ou familiar. Uma pessoa ética irá estranhar (o mais saudável dentre todos os verbos psíquicos, a meu ver) o comportamento, métodos, silêncios, a tirania ou a sedução do parceiro ou da parceira. A ajuda psicoterápica pode ser útil para decodificar o sofrimento e propiciar ao conflito uma solução ou superação.