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Jogos psicológicos infernizam as relações em que não há entrega

por <b>Rosa Avello</b>* Publicado em 23/11/2009, às 13h52 - Atualizado em 25/11/2009, às 19h01

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Jogos psicológicos infernizam as relações em que não há entrega
Jogos psicológicos infernizam as relações em que não há entrega
Escrevi aqui sobre jogos psicológicos nas relações afetivas e alguns leitores me pediram exemplos. Para quem não leu o artigo, explico que esses jogos são conjuntos de atitudes dos quais as pessoas lançam mão para manipular o outro e, ao mesmo tempo, para evitar se entregar à relação. Em geral têm mão dupla e costumam ser inconscientes. Acontecem como rituais. O psiquiatra americano Eric Berne descreveu vários deles. Um dos mais conhecidos, que parece banal, ocorre quando encontramos alguém na rua e travamos o seguinte diálogo: A: "Olá, como vai?" B: "Vou bem, e você?" A: "Vou bem, mas hoje estou com pressa..." B: "Então, corra. Foi um prazer revê-lo." A: "O prazer foi meu. Até outro dia." Entendeu? Tudo é orientado para o afastamento. Segundo Eric Berne, os jogos têm regras que definem quem pode jogar e como deve fazê-lo. Como eu já disse, assemelham-se a rituais e, por isso, as pessoas sentem como se já tivessem passado pela mesma situação outras vezes. Parceiros que se relacionam por meio desses "rituais" falam sempre as mesmas coisas e sabem, de antemão, como o outro vai reagir. Por exemplo: João chega em casa e encontra o jornal espalhado pelo sofá. Maria sabe que ele detesta isso, assim como ele sabe que ela se irrita quando ele fuma na sala. Pois é o que faz, após ver o jornal fora do lugar. Quando ela chega, sente o cheiro de cigarro e reage. Pronto. Eles vão começar uma briga. Ambos sabiam que seria assim, desde o início. A atitude carrancuda de João quando Maria chega e o nariz torcido dela ao entrar são os gatilhos que anunciam o início do jogo. Sabem que vão brigar e nada fazem para impedir. O primeiro lance é a queixa de um dos dois. Ela fala do cigarro e ele retruca com a reclamação sobre o jornal. No lance seguinte, um dos dois altera a voz e traz do passado um assunto que nada tem a ver com o que está sendo tratado: "Você nunca cumpre o combinado! Prometeu que íamos viajar e até hoje não se organizou para tirar férias!" O outro aumenta o volume e faz nova jogada, conduzindo-os para a segunda fase do jogo, a da generalização: "É sempre assim. Você só sabe me cobrar". Nessa hora, um dos dois se torna mais agressivo e indica que o jogo chegou ao fim. João pode dizer, por exemplo: "Um dia eu me encho e vou embora". Com essa "deixa", Maria faz o lance final. Corre para o quarto gritando: "Tudo bem! Meu advogado está pronto para quando esse dia chegar." Fim do jogo e de mais um dia sem que tenham encaminhado seus reais problemas. O pior é que eles não se separam. Talvez até cheguem perto, mas sempre acham um motivo para continuar jogando. Jogos como esse são formas de impedir relações honestas e íntimas. Com o passar dos anos, as pessoas têm cada vez menos o que trocar, o que aumenta a necessidade de jogar. Para que João e Maria parassem com os jogos, teriam de ser espontâneos e adotar uma atitude de descoberta mútua. Sem defesas. Em vez de se irritar, deveriam procurar entender o outro. João teria de acreditar que Maria quer fazê-lo feliz e ser feliz com ele - ainda que esqueça o jornal no sofá. E Maria teria de acreditar que João sente o mesmo em relação a ela. Se isso ocorresse, ele não ficaria tão incomodado com o jornal e nem pensaria em fumar na sala.