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Geraldo Luís revela infância difícil em área de prostituição: 'Passei mais medo da fome'

O apresentador vai contar em autobiografia como se transformou de engraxate e lavador de corpos no IML a um dos comunicadores mais queridos do Brasil

Kellen Rodrigues Publicado em 06/07/2015, às 16h13 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Geraldo Luís - Cauê Moreno/Divulgação
Geraldo Luís - Cauê Moreno/Divulgação

Geraldo era um menino de apenas quatro anos quando o pai saiu ‘para comprar cigarros’ e não voltou. A mãe, faxineira, mudou-se com o filho para um cortiço, reduto de traficantes e de prostituição. Ele cresceu vendo a morte na porta de casa e, acostumado, foi trabalhar lavando corpos no Instituto Médico Legal. Lá foi ‘descoberto’ por um radialista, deu início a uma guinada em sua vida e se transformou em um dos principais comunicadores do Brasil.

A história até poderia ser um drama de ficção, não fosse a biografia de Geraldo Luís. Agora, aos 44 anos, o apresentador pretende contar detalhes de sua trajetória em um livro que ele mesmo está escrevendo e chegará às prateleiras este ano. “Estou vivendo a melhor fase da minha vida”, diz.

Em entrevista à CARAS Digital, ele abriu o coração e adiantou um pouco do que o público encontrará em sua autobiografia. Confira!

A infância

Logo na primeira noite em sua casa nova, Geraldo percebeu que a vida não seria fácil ali. Eles mal chegaram e se depararam com um tiroteio no cortiço. “Minha mãe me cobriu com um travesseiro e deitou em cima de mim. Quando acabou, fomos olhar e bem na nossa porta tinha uma mulher morta”, lembra. “Fomos pra lá porque não tínhamos condições de morar em outro lugar. Minha mãe sofreu muito. Ela acabou se tornando mãe e pai, mas a vida sabe o que faz”, continua.

Quando não estava na creche, ele acompanhava a mãe nas faxinas em casas de famílias, onde nem sempre eles eram bem tratados. Certa vez, tentou tocar piano na casa de uma das patroas e foi pego no ‘flagra’. “Ela fechou o piano na minha mão e eu quebrei um dedo. Anos depois, o primeiro dinheiro que recebi da Record eu comprei um piano”, conta.  “Vi muito a minha mãe limpar privada de madame. Hoje as pessoas que trabalham na minha casa eu trato como amigos e pago muito bem. Quando eu vejo elas eu vejo minha mãe”, explica.

Foi no cortiço que Geraldo passou a admirar o trabalho da polícia. Ele achava bonita a atividade da perícia técnica que ia retirar os cadáveres após algum crime. Foi aí que fez amizade com agentes funerários e o chefe do IML, que viria a lhe dar um emprego. “O ser humano se acostuma com tudo. Foi uma questão de sobrevivência ter vivido naquele local. Você tem que escolher entre o bem e o mal”, defende. “Acho que passei mais medo da fome do que de qualquer outra coisa”.

O reencontro com o pai ocorreu 30 anos após o abandono. “Fiquei sabendo que ele estava precisando de ajuda. Alimentei um ódio durante muito tempo, culpando ele pelo sofrimento da minha mãe. Mas a vida nos ensina. Eu o perdoei. Teve um momento da vida dele que eu o ajudei, mas nunca tive um contato muito forte, nunca o chamei de pai”, revela. “Ele morreu há um ano. Levei meu filho pra conhecê-lo. A vida cuida de nos mostrar que a gente tem que perdoar. Foi tranquilo”.

A vida de um repórter policial

Já no IML Geraldo passou a conviver com repórteres que cobriam a editoria de polícia. Um dia, recebeu um convite para conhecer a Rádio Educadora, emissora que fazia sucesso na cidade. “O Pinheiro Alves me chamou para trabalhar, eu achei que era uma brincadeira. Ele era o Gil Gomes de Limeira”, diverte-se. “Foi lá minha grande escola. Me tornei auxiliar de repórter policial e depois de dois anos passei a ter meu programa”, relembra Geraldo, que chegou a apresentar três programas por dia na rádio. De lá ele se transformou em repórter policia no jornal Gazeta e depois passou a apresentar um programa na TV Comunitária da cidade. Foram 22 anos como repórter policial e o que ele gostava mesmo era de se aventurar com os agentes em busca de informações. “Sofri ameaça, botei muita gente na cadeia. Acompanhava a polícia dentro da viatura, ia aos distritos... Uma vez, durante uma perseguição, a viatura sofreu um acidente e caiu no rio. Me quebrei e  passei três meses na cama”, lembra.

O programa A Hora da Verdade foi uma vitrine para ele. Após três anos no comando, Geraldo foi convidado a fazer um teste para o Balanço Geral, da Record. Foi contratado em sete de dezembro de 2007. Dois dias depois, dona Olga, a mãe, faleceu. “Ela me viu no ar um dia só”, lamenta.

“Eu queria chegar em São Paulo conhecido como ‘Geraldo Luis, repórter policial’. Na minha infância eu brincava que era o Silvio Santos, vejo ele como minha referência. E você vê como a vida é engraçada: fui engraxate, lavador de defuntos e hoje sou como comunicador aos domingos”, comemora. “Quando eu via o Silvio Santos eu me via lá”.

Pai de adolescente

A exposição na TV, claro, fez aumentar o assédio a Geraldo, o que ele considera ‘normal’. Solteiro após ficar casado por 14 anos, diz que não teria problema em se relacionar com fã e considera que está difícil encontrar uma companheira. “Já saí com fã. É uma delícia, mas fã cabeça. Hoje estou mais tranquilo”, confessa.

Geraldo vive em São Paulo com o filho, João Pedro, de quem cuida sozinho desde que o menino tinha oito anos. “Temos uma relação muito bacana, às vezes eu não sei se sou pai ou irmão. Ele não me dá trabalho, não conhece só a vida do pai que é apresentador, mas a vida simples que a gente leva, que é o que vale para nós.  Ele conhece os dois lados da moeda, não é um filho que vive o ego de ter um pai apresentador”, diz Geraldo, que sonha em aumentar a família. “Quero ter uma menina. Quero muito, mas é difícil encontrar uma mulher. Está faltando no mercado”, brinca.

Sonhos

Apresentando o Domingo Show desde 2014, Geraldo está feliz com os resultados de seu programa – que chega a conquistar a liderança de audiência em alguns domingos -, mas sonha mais. “Tenho muito que aprender, estou engatinhando, aprendendo a fazer TV aos domingos. É difícil porque tenho concorrentes respeitáveis, grandes profissionais. Gostaria de fazer um programa como o Silvio fazia Porta da Esperança ou no estilo Perdidos na Noite”, antecipa. “Hoje a TV está muito chata, todo mundo copia todo mundo e a ousadia não faz mais parte da TV brasileira”, opina. “Outra coisa que morro de vontade é de fazer cinema. Um filme tipo O Auto da Compadecida, uma ponta. Acho lindo. Quero fazer no nordeste um circo-escola”, empolga-se.

O nordeste, aliás, é o local escolhido para um projeto social que Geraldo está elaborando, uma extensão da Casa da Sopa, que ele manteve durante anos em Limeira para ajudar moradores de rua. “Nós distribuíamos cinco mil pratos de sopa por mês. Pela fome que eu e minha mãe passamos, prometi a ela que um dia ia cuidar de gente como nós”, lembra. O projeto fechou há dois anos, mas será reaberto em breve no Nordeste com cursos de capacitação, além da distribuição de alimentos. “Me vejo como esse instrumento de voz pra ajudar as pessoas”, conta. “Hoje me sinto um milionário. O interessante de ter morado nessa área de prostituição é que só me trouxe coisa boa porque aprendi o valor da vida”.