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Muitos adotam o “amor descartável”, mas o casamento ainda está em alta

Paulo Sterncik Publicado em 16/01/2014, às 17h05 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Há uma galera que fica deslumbrada com as facilidades amorosas da atualidade. “Amorosas” entre aspas, porque o amor, nesses casos, pode durar apenas uma noite — o tempo necessário para satisfazer à carência, ao desejo e à curiosidade. É o  “amor” tipo prêt-à-porter,descartável — também chamado de “alta liquidez” pelos sociólogos. Diz-se, nas finanças, que ações, moedas ou títulos são de alta liquidez quando logo podem ser convertidos ou trocados. Assim se faz hoje também com pessoas, postura adotada igualmente por homens e mulheres, sempre suspirando à procura de uma “presa”.

No cenário mágico, onde as atrações hão de pintar por aí, facilitadas pelas redes sociais, as comunicações instantâneas dos celulares — bastam mensagens de poucas palavras —, parece até milagre que ainda ocorram casamentos e uniões estáveis. E, de verdade, continuam acontecendo tal como antes, mostrando a força e consistência dos amores legítimos que não se abstêm de responsabilidade para com o outro, e de suportar, ao lado das satisfações, os dissabores inerentes às parcerias.

Mas, para isso, além da paixão inicial, convém que ele ou ela esteja em condições de manter uma relação. Ou seja, estar minimamente “casado” consigo próprio — saber o que se quer, estar cônscio dos  próprios valores e das prioridades, e ser capaz de discernir o caráter e os valores do outro, ter capacidade de focar sua libido no que é importante —, para então poder se conjugar com a cara-metade. Que, evidentemente, precisa também estar à altura do compromisso.

Mas, nesse percurso, quantos desencontros! E decepções, choros, sofrimento. É verdade que muitos não deixam a peteca cair: de cabeça erguida, voltam às pistas sem perder o foco. Outros, porém, se convertem à esperteza, adotam a religião da luxúria, recolhem o afeto, se protegem de outro sofrimento e se juntam à galera que nunca soube o que é amar, mas só ficar na boa. Passam a colecionar decepções — só que a dos que se enganam com eles. Podem se relacionar com outros de mesma estratégia amorosa, mas fica tudo muito igual e vazio: graça mesmo só quando á assimetria, capturam presas que se apaixonam.

Fiquei pensando nesta outra ponta, na pessoa que se apaixona por um ser que funciona no modo volúvel. Quase ela poderia cantar como o baiano Caetano Veloso (71) na música Sozinho: “Quando a gente gosta é claro que a gente cuida, fala que me ama, só que é da boca pra fora, ou você me engana, ou não está madura, onde está você agora?”. A resposta a essa pergunta talvez nem a própria pessoa volúvel saiba dar. Porque há uma alta correlação entre desencontro consigo mesma e estar perdida na vida afetiva.

É evidente que há momentos e etapas da vida, mais na juventude, quando é natural a procura da própria identidade e do que realmente somos e desejamos. São passos do crescimento, encontros e desencontros que servem para aprendermos com a experiência. Mas isso é bem diferente de um andar do bêbado ao sabor do acaso, quando a sucessão interminável dos encontros e experiências sofre da falta de sentido e se converte em mero exercício de satisfação imediata sem rumo: marcado para cair no vazio. É verdade também que, embora desejando, muitos não conseguem um amor, mas também não querem, com razão, ficar sem nada.