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Por que muitos casais ficam juntos, hoje, mesmo sendo fácil separar-se

Nahman Armony* Publicado em 07/10/2008, às 21h15

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A frase "até que a morte os separe" ainda é dita pelo padre ao consagrar um casamento. Tem o significado de pacto irreversível, ou seja, o casal assume o compromisso de continuar junto "na saúde e na doença, na felicidade e no infortúnio, até que a morte o separe". Estão embutidos na idéia de infortúnio desentendimentos e incompatibilidades comuns na vida a dois. O compromisso aponta para algo além da manutenção do amor; fala também da indissolubilidade da união de duas pessoas, que ficam amarradas para sempre e, aconteça o que acontecer, deverão suportar-se. Mas os tempos estão mudando, como disse o poeta pop/erudito carioca Vinicius de Moraes sobre o amor: "Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". Ele contrapõe ao infinito no tempo um infinito em densidade. Se no passado a regra era a assunção de um compromisso "para sempre", hoje os casais admitem a possibilidade de um encontro sem previsão de término. Mas fica na maioria de nós o desejo de eternidade, de constância e de solidez, de "envelhecer juntos", de um companheiro para sempre. Como desapareceu o contrato formal, ou mesmo informal, haveria alguma coisa que permitisse vislumbrar uma indissolubilidade? Nestes tempos de narcisismo egoísta e superficialidade de sentimentos, se algo incomoda o mais fácil é descartar o estorvo. Já não existe uma obrigação de manter a relação. A tolerância a diferenças, suscetibilidades e idiossincrasias está mais para zero do que para infinito e, não havendo comprometimento, a união se desfaz. Mas encontramos na maioria das pessoas, ao lado do narcisismo egoísta e superficial, o anseio por um amor verdadeiro e eterno. A ausência de compromisso facilita a separação quando alguma coisa vai mal, sem que o casal se esforce para superar as diferenças. Como atender, então, ao anseio de segurança fora da idéia de obrigação contratual? Vislumbro duas possibilidades: a primeira é quando o desejo de viver com um parceiro é tão grande que o casal encara o sofrimento causado pelas desavenças como menos aflitivo que a vida solitária. Em nome do desejo de ter um cúmplice para sempre faz um esforço de superação das desavenças. A outra possibilidade é quando a união é tão infinita, no sentido do verso de Vinicius, que todo rompimento é seguido de um retorno. Após algumas experiências de separaçãoretorno, os parceiros se conformam com os malestares periódicos que ocorrem entre eles e os superam, porque sabem que retornarão. Usei em artigo anterior a expressão "amor visceral" para falar de um afeto cujo protótipo é a relação mãe-filho. Assim como a mãe sente o filho como parte sua, no amor visceral amantes se sentem parte um do outro, não sendo admissível separar-se. Não é só compromisso formal, pois, que mantém o casal junto. Também a valorização de uma companhia constante e a existência de amores viscerais levam a isso. As pessoas aprendem com a experiência que o amor estável é reconfortante. Até certo ponto, é compensador suportar as susceptibilidades, desencontros, agulhadas na auto-estima, farpas eventuais, desde que se consiga superar essas questões pela fala ou pelos comportamentos compensatórios. Pesquisas psicológicas e as neurociências confirmam isso. Portanto, amigos, mãos à obra.