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Amor só dura três anos, diz estudo, mas há quem saiba mantê-lo vivo

Redação Publicado em 05/09/2011, às 18h32 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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Falar de quanto dura o amor — e tecer generalizações de caráter científico sobre o assunto — pressupõe que se tenha um entendimento claro e universal sobre o significado de amor. Mas quem se atreveria a redigir uma definição inequívoca para o verbete? A despeito das dificuldades que o tema envolve, no entanto, um estudo da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, chegou à estranha conclusão de que o amor dura apenas três anos. Será?

É fato que um casal acaba. E “talvez o fim de um amor seja um fenômeno tão misterioso quanto o apaixonamento”, como já escreveu o psicanalista Contardo Calligaris (63). Mas ainda assim não se pode afirmar com a mesma assertividade que o vínculo acaba, nem que tenham fim possíveis atributos do mesmo, como a paixão, o amor, o ódio, a irritação, a saudade, a gratidão, a mágoa, enfim, uma miríade de estados subjetivos.

O que minha experiência (pessoal e profissional) me permite afirmar é que as pessoas dão o nome de amor a algo inusitado e intenso que experimentam, algo que conseguem discernir a partir de dois itens: a grandiosidade, a preciosidade da experiência subjetiva vivida e o valor dado àquele ou àquela que o leva a sentir o que sente. Qualificam como amor essa vivência provavelmente em razão da crença de que o amor é o que de mais alto, nobre e sublime se pode experimentar e fantasiam que além de transformadora tal vivência é indissolúvel. A fantasia de imortalidade (do sentimento e daquele que o experimenta) atesta que, sob essas circunstâncias, a pessoa se vê possuidora de um atributo divino, transcendental.

Quanto dura esse estado de coisas? Até que a pessoa se dê conta de que jamais foi retirada de (portanto, não há de ser devolvida a) sua condição humana, até o momento em que tem fim a inflação psíquica que a acometeu temporariamente, aprisionando-a a uma ilusão, que, por definição, não dura. Essa temporária inflação é, sim, potencialmente transformadora, mas o novo conteúdo acessado por ela precisa ser integrado para que a vida siga adiante, provavelmente enriquecida — e também, quiçá, envenenada. E quem integra é o humano. Dura o enlevo, portanto, até que as projeções sobre o outro sejam retiradas, ou seja, até que o caráter humano do outro seja reconhecido, uma vez que, nesses estados arrebatadores, o parceiro também fica divinizado temporariamente.

Talvez mereça o nome de amor, finalmente, o vínculo em que a graça, a beleza e o estímulo não se percam, mesmo em face da dissolução da ilusão, ou seja, quando o eu e o outro resgatam a percepção de suas condições humanas.  Não nego nem deprecio o caráter divino da luz que parece incidir sobre a vivência de suspensão temporária do meramente humano, quando o banal é mágica e intensamente temperado pelo especial. O problema ocorre quando se deseja que o tempero assuma o lugar do prato.

Esse estado de inflação (suspensão temporária da percepção de que se é humano) dura pouco. E há de ser assim, ou os envolvidos poderiam se aproximar da loucura. Quando uma relação sobrevive a essa passagem sem perder a graça, a beleza e o tempero, talvez aí tenha início um “banal especial” chamado amor. Uma coisa humana, mas abençoada pela graça do divino, isto é, pela a presença fugaz do mistério como dimensão do humano. Isso talvez possa durar indefinidamente.