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Joyce Ribeiro, âncora do SBT Manhã, diz que sofreu preconceito na carreira: 'Isto está longe de acabar'

Joyce Ribeiro, a 'Glória Maria do SBT', fala sobre o início da carreira, preconceito e maternidade

Renan Botelho Publicado em 12/09/2013, às 16h17 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Joyce Ribeiro - Divulgação
Joyce Ribeiro - Divulgação

Joyce Ribeiro se consagrou como uma das principais jornalistas do SBT, onde está há oito anos e apresenta o SBT Manhã ao lado de Hermano Henning. Uma das únicas âncoras negras da televisão brasileira, ela comemora o atual cenário no mercado de trabalho menos preconceituoso, mas lembra as dificuldades que enfrentou no início da carreira.

“A dificuldade de aceitação era maior para os negros quando comecei. E a necessidade de se provar que é capaz e apto para aquela atividade, sem dúvida era maior”, diz Joyce em entrevista à CARAS Online. “O preconceito se fazia presente na falta de oportunidade, na exclusão de algumas áreas. Não tinha a presença de negros bem colocados no mercado de trabalho, no mundo das artes... Hoje a gente já tem essa presença crescente. Conseguir uma entrevista de emprego era muito difícil”, avalia.

A jornalista conta que o preconceito, no seu caso, nunca foi explícito. “Porque tem essa diferença: o preconceito que você expressa e aquele preconceito velado, de olhar, de censura”, diz. Para Joyce, os jovens negros hoje vivem em uma sociedade completamente diferente de quando ela decidiu ingressar no mercado de trabalho, há 13 anos. “Na minha família, por exemplo, eu tenho um irmão oito anos mais jovem, o que não é nada, mas a percepção que ele tem do mercado, da vida e dele como negro no mercado de trabalho, o enfrentamento que ele vai ter daqui para frente, são completamente diferentes de quando eu pensei em entrar no jornalismo. A revolução é recente. Essa sensação de que melhorou é uma coisa de agora. Meus pais viveram uma situação ainda pior. Eles não imaginavam viver o que os filhos deles vivem hoje”, fala.

- Você já foi chamada de ‘Glória Maria do Baú da Felicidade’. O que achou desse apelido?
Eu fiquei honrada de ser comparada a Glória Maria, que foi a minha inspiração na carreira, quem eu assistia quando era bem nova, quem eu queria seguir. Ela me inspirou e me motivou. Sempre disse que se eu conseguisse fazer um pouquinho da carreira brilhante que ela fez, eu ficaria muito feliz.

- A Glória abriu espaço tanto para as mulheres quando paras os negros na televisão. Hoje, você sente que o preconceito que ela enfrentou já acabou?
Ainda está longe de falar isso, que acabou. Sou sempre uma otimista. No geral, a maioria não aceita mais esse tipo de comportamento preconceituoso e racista. Graças a Deus virá uma sociedade muito mais tolerante. A sociedade consegue enxergar a passos lentos que somos todos iguais, está conseguindo tolerar a diferença do outro. No mercado de trabalho, eu sinto uma mudança positiva. Ao meu ver é uma mudança crescente, contínua e permanente. A mentalidade hoje já parte do princípio de não ter o preconceito, de não ser intolerante, de ‘vamos aceitar porque todos nós temos que ser aceitos’. Mas o preconceito não acabou. Infelizmente, existem alguns casos que se repetem. Ainda é uma luta de se firmar, de se colocar como um membro da sociedade, independente de raça, do sexo, da orientação sexual. Já passamos dessa fase de se prender ao que não interessa, mas ainda não dá para dizer que acabou.

- Em algum momento pensou em desistir da carreira?
Sinceramente não. Eu consegui coisas que há alguns anos eu imaginava que seria muitíssimo diferente. Nos momentos de dificuldades maiores, não abandonei meu objetivo em nenhum minuto. Não deixei esse pensamento tomar conta de mim. Nunca tive vontade de parar. Mesmo que tivesse que dar um passo para trás para voltar a andar para frente. 

- Você já passou por alguns jornalísticos do SBT (SBT Brasil, Jornal do SBT, SBT São Paulo, Boletim de Ocorrências e o Aqui Agora). A emissora é conhecida por ser meio instável nesta área. Isso te passa insegurança?
Eu já estou no SBT há quase oito anos. Eu participei de alguns projetos jornalísticos da emissora. O SBT Manhã, por exemplo, desde que cheguei já estava no ar. Há oitos anos o SBT Manhã é dessa forma. Durante este tempo teve, sim, alguma variação, mas o SBT Brasil também está todo esse tempo no ar. Outros projetos em horários alternativos tiveram mais variações. Se eu me sinto insegura? Eu não tenho essa sensação, não. De verdade. Eu encaro cada projeto como um desafio novo de tentar emplacar o jornalismo em um horário diferente para a emissora. Sempre encarei desta forma, de ver o que agrada o público em outros horários. Até acho mais interessante porque vemos o interesse da emissora de testar outros produtos jornalísticos.

- O Aqui e Agora vai voltar ao ar no dia 23 de setembro. Ficou feliz?
Acho maravilhoso que volte. Que a casa encontre um horário para ele que dê certo. Estamos sempre na torcida.

- Onde quer chegar como profissional? Sonha em ter um programa seu?
Me vejo fazendo hard news por mais algum tempo. Hoje me sinto no meu melhor momento da minha produção como jornalista. Não estou falando que estou pronta, longe disso, mas a segurança profissional, o feeling, a habilidade de enfrentar as circunstâncias do jornalismo diário para colocar o jornal no ar, isso a gente constroi nos anos de carreira. Neste momento eu me sinto segura e pronta. Quero curtir esse momento e me exercitar, fazer o melhor que puder fazer. Futuramente eu penso em ter um programa meu, sim. Daqui uns anos eu vou conseguir estruturar isso e colocar em prática.

- Como foi voltar ao trabalho depois de cinco meses de licença maternidade (ela teve a primeira filha, Malu, que completou um ano em agosto)?
Não tem como escapar disso, não. São cinco meses intensos. Você sente falta mesmo da presença do bebê. Você fica com aquela saudade, mas também faz parte. É interessante até para o bebê mesmo ser uma mãe que tenha sua própria atividade, senão mais para frente acaba tendo uma relação mal resolvida. Quando você tem essa coisa de trabalhar e está acostumada com isso, de repente você faz essa ruptura, no começo é bem difícil também. Só mãe sabe o que está passando e ela sabe o que tem que enfrentar. Mas deu para fazer este retorno como eu gostaria que fosse.

- E ser mãe dá mais trabalho que editar um jornal?
É tudo muito trabalhoso, mas acabei achando mais tranquilo do que imaginava. Você vai aos poucos achando seu ritmo com a criança. Toda mãe consegue. O que aprendi é que a gente consegue fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo, de verdade. É questão de sobrevivência. Tem que ter a cabeça funcionando. Aos pouquinhos você vai ser acertando e entra naquela correria.