Responsável pelos figurinos pra lá de originais d' A Grande Família, Cao Albuquerque contou detalhes de como é criar e recriar looks em um seriado que dura mais de uma década
Sabe aquele visual comportadíssimo de Lineu Silva, personagem de
Marco Nanini, em
A Grande Família? E os conjuntinhos de Dona Nenê, brilhantemente interpretada por
Marieta Severo? É difícil encontrar alguém que não se lembre desses looks, que chegam a ser engraçadíssimos. E o responsável pelas peças é o figurinista
Cao Albuquerque, que em conversa com a
CARAS Online contou detalhes desses guarda-roupas pra lá de originais.
"No primeiro ano foi desenvolvido um trabalho mais realista. Eu entrei no segundo ano de A Grande Família e acrescentei uma mão farsesca [aos figurinos]", afirmou Cao, que é conhecido no meio justamente por essa característica. Há 27 anos na Rede Globo, ele foi o responsável por looks extremamente autorais, criado para séries como
Armação Ilimitada e
TV Pirata.
A 'mão' farsesca de Cao funciona muito bem para a comédia, mas também para dramas como
A Muralha. Já no cinema, Cao foi responsável pela delicadeza de
Lisbela e o Prisioneiro e da altivez de
Irmã Vap.
A versatilidade e experiência do artista, além do texto e elenco de primeira, foram suficientes para excluir a monotonia de um trabalho que já dura uma década.
"Eu gosto desse resultado, que já fazemos há dez anos e não acho que estamos nos repetindo, pois os figurinos acompanham as mudanças dos personagens", explicou Cao, referindo-se à atração humorística que tira boas gargalhadas dos telespectadores às quintas-feiras.
De acordo com o figurinista, quando ele recebeu o enredo, leu e releu a história, começou a 'desenhar' roupas que representavam décadas. Ele jura que não foi um 'insight', mas sim um processo que ocorreu naturalmente:
Quando a personagem da Dona Nenê caiu em minhas mãos, logo percebi que o perfil dona de casa dela se encaixava na década de 50", disse. Assim como o 'militarismo' do Lineu seria representado de maneira fidedigna pelos anos 60. E assim por diante. O look de Marilda (
Andréa Beltrão, que já não faz parte do elenco) é completamente brega-hypado de 1980. A contemporaneidade vai às telinhas através de Tuco e Bebel, interpretados por
Lúcio Mauro Filho e
Guta Stresser.
Conforme explicou Cao, o projeto d'
A Grande Família foi sucesso da televisão brasileira na década de 1970, mas a fonte de inspiração da equipe - embora tenha pinceladas e chavões de outrora - é bastante contemporânea.
"Apagamos totalmente, esquecemos o programa anterior para começar do zero. A própria Globo não queria que nos embasássemos no outro programa, eles queriam que tornássemos contemporâneo o remake. Não assisti a nenhum capítulo da versão anterior, apenas dei continuidade ao projeto do ano anterior", elucidou.
O elenco ainda conta com a graça serviçal de Beiçola, o dono da pastelaria interpretado por
Marcos Oliveira, que foi inspirado nas goiabeiras cubanas. O figurinista garante que não existe preferência em criar um ou outro look, de montar um visual específico, no entanto, ele reconhece o que faz mais sucesso com o telespectador.
"Cada personagem me conquista de uma forma. Todos eles me trazem alegria. São amigos meus de longa data, anteriores à 'Grande Família'". Mas, [para o público], o Agostinho, sem dúvidas, é o personagem que tem maior visibilidade. Todo mundo tem uma opinião sobre ele, ou ama ou odeia, mas não deixa de ter uma opinião".
Papéis femininos
O jeitinho delicado da mãezona Dona Nenê e a ousadia um pouco exagerada de sua filha, Bebel, pode até apontar para papéis opostos dentro da trama. Mas, a verdade, é que, tanto o figurino de Marieta quanto o de Guta, tem evoluído constantemente com o andar das temporadas, e mãe e filha alcançam um certo equilíbrio dentro da trama.
Ou seja:
"A Bebel deixou de ser aquela menina bobinha que vivia sendo enganada pelo marido e ela adquire essa feição de mulher e mãe de família", disse Cao, explicando que o guarda-roupa da atriz passará a ser mais maduro, porque agora ele representa alguém mais independente, mais seguro.
"Depois de ter trabalhado em um salão de beleza, a Bebel começa a ter mais contato com a moda e usa tudo o que é tendência. Eu diria até que ela é uma 'fashion victim'", explicou.
A atriz Guta Stresser percebe essas mudanças ao decorrer dos anos.
"Acho que ela [Bebel] já mudou bastante ao longo desses 11 anos, mas sem perder a personalidade. O figurino reflete uma garota antenada nas tendências e ousada. [O visual] acompanha tanto as fases da vida dela e a idade, quanto as tendências da moda em si. Ela sempre usou coisas de acordo com o que vivia no período, sem perder de vista a moda das ruas", afirmou Guta, que disse adorar as roupas da personagem, mas afirma não ter nada de 'fashion victim'.
Dona Nenê, por sua vez, deixa um pouco de lado o avental e encara tailleurs, calças e blazers, pois, nessa temporada, ela assume a presidência da associação de moradores.
"Nós tivemos a preocupação de criar figurinos que prestasse serviço a essas duas mulheres [a presidente e a dona de casa]".